domingo, 15 de agosto de 2010

How You See The World








Capítulo 1 - The Hospital



O hospital era o último lugar em que eu gostaria de estar naquele momento e, por mais que isso já fizesse parte da minha rotina, eu não conseguia encontrar meios para me acostumar àquilo. Todos os meus atuais amigos eu havia conhecido no hospital, meu pai vivia no hospital, a pessoa que eu considerava uma mãe para mim vivia no hospital e a pessoa mais importante dos meus dias, foi o garoto que eu conheci no hospital. Mesmo assim, eu não conseguia gostar daquele lugar.

Mas, no final das contas, quando eu acordava, algo parecia dar mais sentido à minha vida. Todas as pessoas que eram essenciais no meu dia-a-dia estavam lá, esperando por mim, esperando que eu estivesse melhor.

era uma dessas pessoas, ela era minha melhor-amiga-quase-irmã desde que... ah, desde que nós nascemos, praticamente. Meredith também, ela era minha quase mãe, médica, conselheira e mãe da minha melhor-amiga-quase-irmã, eu podia contar com ela para tudo, sinceramente. Derek Shepherd, um dos neurocirurgiões mais bem sucedidos de todos, também conhecido como meu pai, um cara completamente superprotetor. , ele era voluntário no hospital, ajudava a aumentar a auto-estima de cada uma das crianças doentes de lá, ele pretendia se tornar um cirurgião pediátrico futuramente. Era ele o garoto incrível que eu conheci andando pelos corredores do hospital e, certamente, uma das pessoas mais incríveis que eu já havia conhecido. O que eu sinto por ele é difícil de explicar, expressar ou até mesmo entender. Foi como se eu não tivesse nada e, depois dele, eu não precisasse de mais nada. Também havia Rachel, ela era uma de minhas melhores amigas, sempre sabia como fazer com que eu me sentisse melhor, ela era tipo a "cabeça", entende? Tudo o que ela falava fazia sentido, de fato. Essas são as pessoas que fazem parte da minha rotina, de uma forma boa, afinal a presença delas em minha vida me faz extremamente feliz.

Mas, naquele dia, quando eu acordei dentro daquele quarto de hospital, havia algo diferente. Eles não deveriam me receber com um sorriso no rosto? Todos estavam preocupados, com medo. mal conseguia olhar em meus olhos, estava de cabeça baixa. me olhou e deu um leve sorriso e se dirigiu para fora do quarto, provavelmente para avisar meu pai de que eu estava acordada.

A curiosidade me consumia por dentro, mas mesmo assim, algo me avisava que eu não gostaria de saber o que eu queria descobrir. Eram más notícias, eu sentia isso.

Ficou ainda mais claro assim que meu pai e Meredith passaram pela porta.

Os dois se aproximaram, com um leve sorriso no rosto. Meu pai pousou suas mãos sobre meu rosto e deu-me um beijo apertado na testa, enquanto Meredith pedia para que todos nos dessem um minuto de licença, para que me explicassem o que estava acontecendo. Esperei que meu pai começasse a falar.

- , eu sei que você está assustada agora, mas não se preocupe, meu amor. - Ele me olhou por um longo minuto e continuou. - Nós não temos nada diagnosticado, por enquanto. Você teve um desmaio quando voltava da escola. Foi uma sorte que Rachel estava com você, ela me ligou assim que você desmaiou. Você ficou inconsciente apenas por alguns minutos, felizmente e nós precisamos fazer alguns exames agora, tudo bem? Só para que tenhamos certeza de que não é algo mais grave. - Ele sorriu. - Meredith vai te preparar para os exames agora.
- Mas, e se for algo mais grave, pai? O que pode ser? O que vai acontecer comigo?
- Não precisa se preocupar com isso ainda, querida. - Meredith disse, me dando seu melhor sorriso. Meu pai olhou para ela, seu olhos brilhavam cheios de sentimentos. Se eu não estivesse completamente preocupada com outra coisa naquele momento, diria que havia algo a mais naquele olhar.

Fizemos uma ressonância magnética comum, tiramos alguns raios-x e, também, exames de sangue.

A ressonância e os raios-x não apontaram nada anormal. Mas, devido a todo o processo feito no laboratório, os resultados do exame de sangue só chegariam na próxima semana. Isso deixou meu pai mais aliviado. Seria um cargo pesado demais para ele se eu tivesse uma outra doença além de minha hemofilia. Ele já se sentia culpado o suficiente por eu precisar visitar o hospital praticamente sempre, para fazer tranfusões de sangue.

Quando Meredith me levou de volta ao quarto, esperava por mim. Seu sorriso fez com que eu me esquecesse de todo o resto. Ele veio até mim e me deu um abraço apertado, me tirando da cadeira de rodas. Nós ficamos lá, no meio daquele abraço, por um longo tempo e eu não pretendia me livrar de seus braços tão cedo.



Capítulo 2 - Just Keep Believing



Não podia ser verdade. Não podia estar acontecendo comigo. Não de novo. Será que eu já não havia feito as pessoas a minha volta sofrerem demais? Não era justo com elas. Porque dizem que se você for uma pessoa boa, coisas boas acontecerão a você. Mas isso só me provava o contrário. Eu não sei se consigo suportar assistir as pessoas que eu amo sofrerem mais uma vez... por minha causa. Por que me doía mais ver eles chorando quando era eu quem estava morrendo, afinal de contas?

Leucemia linfocítica aguda. Produção descontrolada de blastos de características linfóides. Bloqueio da produção normal de glóbulos vermelhos, brancos e plaquetas. Foi o que meu pai disse. Eis a causa do meu desmaio repentino. Mais tranfusões. Meses e meses de quimioterapia. Hemorragia. Cansaço.

Mas o que realmente me assustou foi a reação deles. Sabe a pior sensação que você já imaginou que poderia ter alguma vez na vida? Quando você queria falar tudo, mas sua voz não saia. Quando você queria que toda a aflição e insegurança jamais houvessem existido. Quando você sabe que nem o mais sincero "Vai dar tudo certo!" pode mudar alguma coisa. Quando você queria parar o tempo e simplismente desaparecer. Eu senti tudo isso e muito mais.

Eu não era a única sem palavras dentro daquela sala. Meu pai, Meredith e . Nenhum deles sabia o que falar. Até que minha melhor amiga, aquela que realmente sabia o que eu estava sentindo naquele momento, se pronunciou:

- Eu sei que não é fácil. - Ela disse olhando para meu pai e, em seguida, para mim. Depois de um longo minuto, ela voltou a falar. Mais uma vez se direcionando à meu pai. - Você, Derek, é um dos melhores neurocirurgiões do mundo. Uma das pessoas mais inteligentes que eu conheço e admiro. Então sabe mais do que qualquer um que esteja presente nessa sala que existe tratamento. Existe cura. - As lágrimas escorriam pelo rosto de meu pai. - É uma difícl batalha. Exige muita coragem e força... - Ela olhou para mim. - E eu sei que ela tem isso. E eu também sei que, se em algum momento, ela não conseguir ser forte o suficiente, eu vou estar aqui. Todos nós vamos. - sentou-se ao meu lado e apertou minha mão.

Se eu tivesse direito a um desejo nesse exato momento, eu não teria nada a pedir. Eu tinha tudo o que precisava bem ali.

O celular do meu pai estava tocando, ele pediu licença educadamente e se retirou da sala.

/durante a ligação

Derek: Alô?
: Olá, Sr. Shepherd. Aqui é o , amigo da sua filha.
Derek: Ah sim. Suponho que queira notícias dela, estou certo?
: Acho que ambos sabemos a resposta. E, então, os resultados saíram?
Derek: Sim. Mas eu acho melhor que nós tratemos desse assunto pessoalmente. Venha almoçar em nossa casa hoje, sua visita vai deixar contente.
: Está certo, muito obrigado.
Derek: Até logo.

/fim da ligação

Enquanto meu pai estava fora, Meredith me explicou todas as formas de tratamento possíveis, as taxas de sobrevivência, minhas possíveis reações ao medicamento, o tempo de tratamento, os sintomas e mais uma série de coisas. Confesso que isso me deixou mais calma.

Então meu pai entrou na sala.

- Era o . Ele queria saber os resultados.
- Você não contou pra ele, né?
- Não, filha. Eu o convidei para almoçar em nossa casa essa tarde. Assim vocês podem conversar mais à vontade. - Eu o abracei, grata.
- Obrigada, pai. - Ele sorriu para mim.

Eu não deveria estar feliz. Eu sei disso. Afinal, eu daria péssimas notícias a . Mas eu não consegui conter minha alegria, minha ansiedade, minha vontade de sorrir e não parar mais. Simplesmente pelo fato de que eu o veria e a sua presença faria com que eu me esquecesse do restante do mundo. Eu mal podia esperar.



Capítulo 3 - Speechless



Naquele mesmo dia, algumas horas mais tarde, os convidados para o nosso almoço começaram a chegar. Meredith, e Rachel. E, é claro, .

Ele estava magnificamente lindo, com uma camisa social branca e uma gravata verde. Como ele conseguia? Assim que seus olhos encontraram os meus, uma estranha onda de felicidade invadiu meu corpo. E, de repente, eu sabia que ele sentia o mesmo, através do imenso sorriso que se formou em seu rosto. Inconscientemente, eu já estava em seus braços.

- Eu fiquei tão preocupado... - Ele disse, procurando as palavras certas. Eu sentia que os olhos de meu pai nos assistiam sigilosamente, mas não me importava.
- Eu sei. - Eu disse, passando as mãos por seus cabelos.
- Mas eu pensei em tantas coisas... E se... - Eu o interrompi antes que ele terminasse a frase.
- Eu sei, .
- Mas... - Eu o interrompi novamente.
- Mas nada. Eu estou aqui agora. Você está aqui. Isso é o que importa. - Eu entrelacei meus dedos nos dele e dei um beijo em sua mão, ele fez o mesmo logo depois de mim.

Em seguida, eu e fomos até meu pai.

- Boa tarde, Sr. Shepherd. Muito obrigado pelo convite. - Ele soltou minha mão por uns instantes e cumprimentou meu pai.
- Por nada, eu que agradeço por você ter vindo. - Meu pai deu um leve sorriso.

cumprimentou a todos enquanto eu o acompanhava pela casa. Então eu o levei até a varanda disposta a contar tudo o que havia acontecido.

- , eu realmente não sei como você vai reagir a essa notícia... - Ele não disse nada, apenas me observava, apoiado no muro da varanda, aparentemente calmo. - Mas eu preciso dizer. Porque... se eu não disser, não vai ser justo para nenhum de nós.
- Pode falar, . Eu estou bem aqui.
- Okay. Eu ensaiei tantas maneiras de te dizer isso, mas agora eu não me lembro de nenhuma delas. E... E eu realmente queria que você fosse um dos primeiros a saber, mas no final das contas eu não tive coragem...
- Fica calma, . Eu vou continuar aqui do seu lado... pra qualquer coisa. Pra tudo. - Ele disse olhando em meus olhos e então seu celular tocou. - Droga. Só um minuto. É o . - é o irmão mais velho de e, caso vocês ainda não saibam, a tem... é... digamos que... uma paixonite por ele.

Enquanto ele ainda estava ao telefone, eu disse:

- Convide o para almoçar aqui. - Eu sugeri educadamente, mas já pensando na felicidade e histeria de , é claro.

Assim que desligou o celular, nós fomos avisar ao meu pai que seu irmão viria para o almoço.


A campainha tocou. Eu corri para mais perto de e disse, só para provocar:

- Você vai me agradecer por isso depois. - Ela me olhou sem entender muito bem a que eu me referia, mas continuou a observar a porta da sala. Até que entrou.
- Agora já é "depois", pode me agradecer. - Eu disse, rindo.

Depois de alguns minutos, Meredith veio nos chamar para sentarmos à mesa. E foi o que nós fizemos.

fez questão de se sentar à frente de . Enquanto todos se ajeitavam em seu lugares, o encarava descaradamente. E o mais engraçado era que, não importava o que acontecia, ela não parava de tentar "seduzí-lo".

Logo quando nos servimos, meu pai se levantou propondo um brinde.

- Eu sei que nós não estamos em um bom momento para o que eu vou dizer agora, mas eu já esperei demais. Eu não quero, em momento algum, piorar as coisas. - Ele olhou para mim e, em seguida, para Meredith. - Há pouco atrás, eu descobri que a pessoa que eu procurava por tanto tempo, na verdade, sempre esteve ao meu lado... E eu realmente acho que esse não é o melhor momento, mas... Meredith Grey, eu te amo. Talvez eu tenha me apaixonado por você desde o primeiro momento, mas eu só pude enxergar agora. - Ele retirou uma pequena caixa de veludo vermelho de seu bolso e a abriu na direção de Meredith. - Eu não vou fazer a pergunta. Eu não vou me ajoelhar. Eu te amo, e eu quero passar o resto da minha vida ao seu lado. - Meredith sorriu, seus olhos brilhavam tanto quanto os de meu pai.

Não irei mentir para vocês, eu realmente tive vontade de gritar. Era informação demais. Mas eu me conti. Foi tão sincero. E, a partir dalí, a felicidade deles também se tornou minha.

- Eu também quero passar o resto da minha vida ao seu lado, Derek Shepherd. Cada dia, cada minuto e cada segundo. - Os dois choravam e riam ao mesmo tempo, como crianças. Meu pai colocou a aliança no dedo de Meredith e então eles se beijaram por um longo minuto.

Meredith e meu pai se sentaram e, no mesmo instante, se levantou.

- Com licença, tem algo que eu quero falar. - Meu coração disparou. olhou para meu pai. - Com todo o respeito, Sr. Shepherd, eu acho importante que você saiba que eu amo sua filha. E eu prefiro fazer isso da maneira certa. Eu prometo estar ao lado dela independente do que aconteça, prometo respeitá-la e protegê-la até que ela se canse de mim. Então, se o Sr. não aceitar o nosso namoro, me desculpe, mas eu terei que fazer do jeito errado. - Meu pai assentiu, rindo. Todos riram e, em seguida, olhou para mim. - Agora resta saber se a Srta. aceita.

Eu estava boquiaberta. Completamente sem palavras. Eu queria aceitar, mas não seria justo com ele. não sabia sobre minha doença. Eu não podia aceitar. Mas eu também não conseguia dizer não. As palavras sumiram. Eu simplesmente não consegui dizer nada.



Capítulo 4 - Please Be Mine



O que havia de errado comigo? Porque eu sabia exatamente o que eu devia dizer, mas eu não podia, eu não conseguia. As palavras simplesmente não estavam mais alí. Eu estava com medo. Mas eu não temia por mim, eu temia por machucar . Se eu dissesse "sim", se eu dissesse "não", se eu desse qualquer outra desculpa ou simplesmente permanecesse calada, eu o estaria machucando. Antes de qualquer coisa, eu precisava contar a verdade pra ele. De qualquer forma, ele não iria querer namorar comigo depois que eu contasse sobre o meu câncer. Quem gostaria de namorar uma garota que não pode dar nenhuma certeza de que vai estar com você no futuro? Eu poderia desistir de tudo por ele, mas, naquele momento, eu precisava ser responsável. Ao menos uma vez.

Quando eu finalmente estava disposta a falar, Meredith me interrompeu:
- Ops! - Ela disse, ao derrubar [/descaradamente] uma taça de vinho no chão. -... É... , você pode me ajudar? - Eu me levantei no mesmo instante, me acompanhou.

Nós três fomos até a cozinha. me olhava horrorizada, como se eu tivesse acabado de cometer um homicídio.

- , o que aconteceu? SÉRIO, O QUE FOI AQUILO?

Eu me sentei no chão e levei minhas mãos ao rosto, inconscientemente.

- Eu ainda não contei pra ele. Eu ia contar, mas... E agora eu não posso simplesmente dizer "sim" e fingir que está tudo bem. Mas... Mas eu não consigo dizer nada. Nem sequer uma palavra. - Eu comecei a chorar. e Meredith se sentaram ao meu lado. - Eu tenho câncer! CÂNCER! Ele não merece uma pessoa doente. Ele não quer uma pessoa doente.

e Meredith se levantaram e saíram da cozinha. Eu ouvi leves passos se aproximando de mim, em seguida, estava ao meu lado, me abraçando.

- Eu não me importo, . Eu não me importo que você esteja doente. E isso, nem sequer por um segundo, vai conseguir diminuir minha vontade de estar perto de você ou mudar o amor que eu sinto. - Ele levantou meu rosto, enxugando minhas lágrimas aos poucos. - Não existe ninguém nesse mundo igual a você, ninguém consegue me fazer sentir da mesma maneira que eu me sinto quando estou com você. E eu não me importo que você esteja doente, entendeu? Eu quero estar ao seu lado, eu quero estar aqui o tempo todo.
- , você não entende. Você não vai querer passar o tempo comigo quando eu estiver tão cansada a ponto de não conseguir me levantar, andar ou até mesmo falar. Eu não quero que você fique comigo por pena.
- , eu não vou ficar com você por pena. Eu quero ficar com você porque eu te amo.

Eu segurei seu rosto em minha direção e disse, com todas as palavras:

- , eu não sou boa pra você. Eu te amo. Eu realmente te amo. Mas eu não posso fazer isso. Eu não consigo. - Eu o beijei suavemente, pela primeira vez. - Mas... Eu não quero mais te ver. Eu não posso mais te ver. Agora eu quero que você vá embora e não me procure. Por favor. É tudo o que eu te peço. Porque eu não vou aguentar se você estiver ao meu lado quando eu piorar. Por favor. - Eu o beijei mais uma vez, passando meus dedos por seus cabelos.



UMA SEMANA DEPOIS



Já fazia uma semana que eu não o via. E tudo o que eu fiz durante todo esse tempo foi observar as paredes do meu quarto, imaginando . Eu sentia falta de tudo. Seus olhos, seu sorriso, seu abraço, sua voz, sua risada, seu perfume. Nesses 7 dias eu pude perceber que, quanto mais eu fico longe dele, mais eu me lembro de cada um dos seus detalhes.

Eu não sabia que ficar sem ele me causaria tantos danos. Mas talvez isso seja um pouco egoísta, eu o mandei embora e o ignorei por uma semana. Será que ele estava se sentindo ainda pior do que eu me sentia? Eu queria ir até ele, me ajoelhar e pedir mil desculpas. Eu queria correr pro seus braços e acabar logo com todo esse drama, todo esse sofrimento, toda essa culpa. Mas... E se agora já fosse tarde demais? E se eu já não tivesse mais chances? E se ele estivesse com raiva de mim? E se ele já não sentisse a mesma coisa? Talvez eu estivesse me preocupando demais. Talvez eu não tivesse coragem o suficiente para lutar pelo que eu realmente queria.
Mais uma vez, em meio a todos esses pensamentos que nunca me levavam a lugar algum, eu caí no sono, porque era a única coisa que valia a pena naquele momento.


Durante o meu sono, eu conseguia ouvir sua voz. Ele tocava seu violão e cantava para mim. Eu tinha quase certeza que era real. Eu mal tinha coragem de abrir os olhos, com medo de que sua voz fosse embora.


They come and go but they don't know
That you are my beautiful

I try to come closer with you
But they all say we won't make it through

But I'll be there forever
You will see that it's better
All our hopes and our dreams will come true
I will not disappoint you
I'll be right there for you 'til the end
The end of time
Please be mine

I'm in and out of love with you
Trying to find if it's really true
na na na na
How can I prove my love
If they all think I'm not good enough

But I'll be there forever
You will see that it's better
All our hopes and our dreams will come true
I will not disappoint you
I will be right there for you 'til the end
The end of time
Please be mine

I can't stop the rain from falling
Can't stop my heart from calling you
It's calling you
I can't stop the rain from falling
Can't stop my heart from calling you
It's calling you
I can't stop the rain from falling
Can't stop my heart from calling you
It's calling you

But I'll be there forever
You will see that it's better
All our hopes and our dreams will come true
I will not disappoint you
I will be right there for you 'til the end
The end of time
Please be mine


[/tradução: http://letras.terra.com.br/jonas-brothers/625215/traducao.html]


Era a música mais linda.
Eu sentia a respiração de tocando minha pele. Não era sonho. Ele estava mesmo alí do meu lado, cantando para mim. E eu sabia disso, mesmo sem abrir os olhos.

- Eu escrevi isso para você. - Ele acariciava meu rosto. Eu tentei conter meu sorriso, mas era impossível. - Você não sabe o quanto foi difícil ficar esse tempo sem notícias suas. - Eu me levantei e abri os olhos.
- Me desculpa, . - Eu o abracei. - Me desculpa, por favor. Eu fui tão idiota. Eu não quero mais ficar longe de você e... SIM! Eu, com certeza, aceito o seu pedido de namoro. Eu te amo. Muito.



Capítulo 5 - Bad Romance



Bom, dessa vez eu vou contar uma outra história... Não tem muita relação a mim, mas é algo que se vale a pena contar. Vocês já sabem que a tem certos interesses pelo , não é mesmo? Isso não é novidade alguma. Mas vocês sabem como isso começou? Sabem POR QUÊ ela tem esses "interesses" por ele?


HÁ APROXIMADAMENTE UM ANO ATRÁS...


Era minha festa de 16 anos. Ou melhor: minha festa de 16 anos sem surpervisão de um adulto sequer. Foi nessa noite que e se conheceram... mais especificamente enquanto nós brincávamos de 7 Minutos no Paraíso.
Um garoto, uma garota, um guarda-roupa e um despertador qualquer. Então o tal garoto e a tal garota são trancados no tal guarda-roupa por 7 minutos, os tais "7 Minutos no Paraíso". Primeiramente, nós vendamos , colocamos todos os garotos à frente e a deixamos escolher um deles. Eis, então, que ela escolheu e você já pode deduzir o restante, não é mesmo? ERRADO! Nós, que estávamos do lado de fora do guarda-roupa, esperamos 7... 10... 15... 30 minutos. Quando os dois saíram do "paraíso", nós todos já haviamos parado de brincar. E foi exatamente assim que tudo começou.

/flashback on

- Prazer, meu nome é . – Eu disse a cumprimentando.
- Hm… Certo. E agora, o que a gente faz, ? Ah, e a propósito, meu nome é . – Ela disse.
- Bom, isso depende. O que te levaria ao paraíso nesse exato momento? – Eu perguntei, já certo de que ela estava prestes a me beijar.

Não foi isso o que aconteceu.

- Eu sinceramente não sei. Mas eu sei o que você está pensando e não, eu não faria isso com alguém que eu nem conheço. – Ela se sentou no chão, eu a acompanhei.
- Certo. Então o que você faria trancada em um guarda-roupa com uma pessoa que você não conhece?
- Nada. – Ela disse, olhando para mim.
- Então você perderia sua única chance de ir ao paraíso? – Ela riu.
- Será que você é tão bom quanto diz ser? – Eu me aproximei de seu rosto.
- Acho que só existe uma maneira de descobrir isso. – Ela cedeu ao meu beijo.

Nós não precisamos de mais palavras depois daquilo.
Sentada em meu colo de frente para mim, ela me beijava, passando suas mãos em meus cabelos, enquanto eu acariciava suas coxas. Eu me levantei, ainda a segurando em meu colo, e a encostei na parede. Ela me empurrou para a parede ao lado, tirando minha camisa e distribuindo beijos a medida que a desabotoava. Eu beijava seu pescoço, apertando sua cintura contra mim, enquanto ela arranhava minhas costas. Eu levantei seu vestido, passando minhas mãos por cada novo lugar descoberto até o tirar por completo. Nós perdemos a noção do tempo. Ela levou minhas mãos até seu sutiã e eu o desabotoei. Em seguida ela desceu seus beijos por todo o meu tórax até chegar aos botões da minha calça. De repente, parou e se levantou, se afastando de mim, como se desse conta do que ela estava fazendo, como se ela estivesse cometendo o maior erro de sua vida.

Ela vestiu seu sutiã e, então, o seu vestido. Pegou minha camisa e jogou contra meu peito. Levou as mãos à cabeça, provavelmente pensando no que iria fazer.

- Isso não é certo. Eu... eu... não sou esse tipo de garota. Você... Nós mal nos conhecemos. Isso seria um erro e eu tenho certeza de que me arrependeria depois. – Ela abriu a porta do guarda-roupa e saiu, sem me deixar falar, sem se despedir.

Eu saí de lá e vesti minha camisa. Ninguém mais estava no quarto. E quando eu desci as escadas, ela não estava mais lá.
Todos me perguntavam o que havia acontecido, mas eu não podia explicar, eu não queria explicar. Eu precisava saber onde estava, precisava vê-la, mesmo que fosse para não falar nada, eu precisava saber se ela estava bem.

/flashback off

ainda gosta de e é óbvio que ele ainda sente o mesmo por ela. Mas o que vocês também não sabem é o por quê eles não tiveram nenhum outro tipo de relacionamento.
Acontece que, uma semana depois do incidente no guarda-roupa, o "melhor amigo" de contou a ele que havia dormido com . Nós jamais desconfiaremos de nossos melhores amigos, então por quê faria diferente?
Mas era uma completa mentira, porque nunca fizera isso e ela jamais faria. Ainda mais depois do que aconteceu entre ela e . Eu sei disso porque ela não é apenas minha melhor amiga, ela é como uma irmã para mim, nós crescemos juntas, vivemos juntas. Mas nunca soube a história verdadeira e infelizmente os dois continuam se evitando. Até hoje.



Capítulo 6 - Enjoy The Silence



Todos me diziam para me preparar para o que estava por vir. Mas, pra falar a verdade, eu não entendi muito bem, aquelas altas dosagens de remédio, a tão temida quimioterapia, não parecia ser tão ruim assim. Por enquanto, é claro. Mas eu não sabia disso até então.

foi a única que me acompanhou. Meu pai e Meredith estavam muito ocupados, então só passavam de vez em quando para checar se havia ocorrido alguma mudança.
Eu havia ligado para o final de semana inteiro, mas seu celular permanecia desligado e ele também não estava em casa. Eram sempre seus pais ou que me atendiam, e nenhum deles sabia onde realmente estava. Eu sabia que precisaria dele em algum momento daquele dia. Era frustrante encarar a porta por horas esperando que ele aparecesse.

Incrível como a felicidade se torna uma falsa realidade de que tudo ao seu redor vai continuar bem, mas num piscar de olhos, tudo fica diferente. E o pior de tudo isso é que nós percebemos que as pessoas não são o que aparentam ser.

A porta se abriu novamente. E mais uma vez não era . Mas a pessoa que entrou era um rosto conhecido, e eu tinha certeza de que ele me contaria a verdade. Mas devo citar que sua presença afetou de uma forma já esperada.
se aproximou e me comprimentou e se sentou ao meu lado.
- Oi. Ah, sim, eu estou muito bem, e você? - disse com um tom de sarcasmo que não poderia ser mais claro. De fato, fingiu não ter escutado. Talvez aquela fosse a cena mais infantil que eu já presenciei em minha vida.
- Eu fiquei sabendo que sua quimioterapia começou hoje, vim saber como você está. Não parece estar tão ruim. Isso é bom, não é? – Ele sorriu para mim.
- Bom, já que eu não sou bem-vinda a essa conversa, nada melhor do que eu me retirar. Com licença. – Se eu não tivesse coisas mais relevantes para me preocupar naquele momento, eu diria que estava vermelha ao dizer aquilo, apenas pelo seu tom de voz. Ela saiu e mal se preocupou em bater a porta. Eu me virei para e dei de ombros, tentando direcionar ao assunto que me interessava.
- , eu tenho certeza de que você já sabe o que eu tenho para perguntar.
- Certo. Ele está em casa agora. Foi seu pai quem contou a ele sobre as sessões de quimioterapia. E ele provavelmente vai querer me matar quando souber que fui eu quem te contou. – Eu o interrompi.
- Contou o que? – Ele fez uma careta.
- Ele está num estado tão ruim que não vai conseguir me matar por mais que seja a coisa que ele mais queira no mundo todo.


foi viajar com os amigos nesse final de semana. Ele desligou o celular com medo de que, se eu descobrisse, o faria ficar. Ele não teve coragem de me contar. E agora, ele estava bêbado e jogado na cama de seu quarto sem conseguir mover um músculo. Esplêndido.

me deixou sozinha por alguns instantes, enquanto eu digeria tudo aquilo. Mas, na verdade, ele foi à procura de e eu conseguia ouvir a discussão entre eles dois plenamente.

- Me desculpa. – Ele disse.
- É, agora você decidiu falar, não é mesmo?
- Exatamente. E você decidiu que me conhece bem o bastante para exigir meus comprimentos. Não é mesmo?

entrou novamente no quarto, bateu a porta e se encostou nela, deslizando até o chão. Enquanto o som dos passos de diminuíam, até desaparecerem por completo, deixando para trás nada além do silêncio.



Capítulo 7 - Lie To Me



Já era noite e, surpreendentemente, eu ainda não estava passando mal por causa da quimioterapia. Isso era exatamente o que eu queria, afinal havia passado o dia todo pensando em uma maneira de conversar com . Eu precisava que ele me contasse a verdade. Então resolvi pedir a que me levasse a sua casa, assim poderia acertar as coisas com . Àquela altura eu já não importava se alguém iria ou não notar a minha ausência, eu só não podia ficar alí sem fazer nada. Como já era de se esperar, sequer me questionou sobre o assunto, coisa que só uma pessoa muito louca faria, obviamente. Ele simplesmente me puxou da cama e me levou até seu carro.

Assim que chegamos abriu a porta para mim e disse:

- Suba as escadas. É a segunda porta à esquerda. - Eu assenti e continuei andando.

Quando cheguei ao quarto, estava jogado na cama, imóvel. Primeiramente eu pensei que ele estava dormindo, mas então ele se virou para me olhar.

- Então você simplesmente desaparece por três dias sem me avisar e sem dar notícias e depois manda o seu irmão ir me visitar, ? - Eu parei e o observei, enquanto ele tentava formular uma resposta plausível para se explicar. - Ótimo, agora você também não sabe o que dizer. Eu precisava de você comigo hoje. Ao invés disso, eu tive de vir até você. Mesmo depois de receber uma alta dosagem de remédios que eu mal conheço. Mesmo depois de todos os meus médicos dizerem claramente que eu preciso ficar em repouso. Depois de você ter me prometido que sempre estaria ao meu lado. - De repente, eu estava soluçando, e meu rosto coberto de lágrimas.
- Eu sei que eu disse que não iria te decepcionar. Me desculpa. Eu... eu não queria te machucar. Me desculpa, .
- "Me desculpa" não é o suficiente pra mim agora. - Eu disse, enxugando o meu rosto e então virei as costas e saí.

Eu já estava quase na metade da escada quando comecei a sentir os degraus oscilando sobre meus pés e um forte gosto de sangue na boca. De repente, minhas pernas não sustentavam meu corpo e por mais que eu tentasse, não conseguia me segurar no corrimão. Então eu caí. Eu mal sentia meu corpo, mal conseguia falar ou sequer me mover. A última coisa que eu senti antes de perder a total consciência foram os braços de alguém me retirando do chão.

Acordei no hospital. Pra variar. Eu não sabia ao certo quanto tempo havia passado. Já devia ser de madrugada. estava com a cabeça apoiada em seus braços cruzados sobre minha cama. e estavam dormindo. tinha sua cabeça apoiada no ombro de . E meu pai e Meredith deveriam estar em algum outro lugar do hospital, logo algum deles passaria por ali para ver como eu estava.

Era engraçado ver e tão próximos sem estar discutindo sobre qualquer mínima coisa. Durante um bom tempo eu fiquei observando eles, até que se deitou, encostando a cabeça em um dos braços do sofá, fazendo com que ficasse literalmente deitada em seu tórax. E então aconteceu a coisa mais hilária que poderia acontecer em um momento como aquele. A mão de começou a descer pela barriga de até chegar... Bem... Até chegar ao seu... Vocês já sabem.
É claro que foi um ato inocente, afinal, ela estava dormindo... Mas é claro que não interpretou desta maneira. Ele não perderia a oportunidade de deixá-la desconfortável.

- O QUE VOCÊ PENSA QUE ESTÁ FAZENDO? - Ele gritou. se levantou no mesmo instante assustada e, logo em seguida, também se levantou para observá-los. Enquanto observava a cena, eu fingia que ainda estava inconsciente.
- O quê? - Ela disse, ainda com os olhos entreabertos.
- Você estava deitada. EM CIMA DE MIM. E ainda se aproveitou da situação. Você por um acaso percebeu onde a sua mão estava? - As palavras de soavam como as de uma mulher. Literalmente. Isso fez rir. Ou melhor, gargalhar. Eu me segurei.
- O QUÊ? - Ela mal conseguia respirar. - Ah, então quer dizer que eu significo algo pra você. Já que você se importa tanto com um simples contato físico. Sem contar que eu estava dormindo. Você acha que eu fiz isso de propósito? Sério? - Ela continuava rindo.
- É claro que eu não me importo. E é por isso mesmo que eu não quero que você me toque. - Ele se levantou e sentou na poltrona que ficava do outro lado do quarto. Nesse momento eu abri os olhos, olhei para e nós duas rimos. Era impossível aguentar.
- . - parou de rir por um instante e andou até chegar à frente dele, apoiando as duas mãos na lateral da poltrona e chegando cada vez mais próxima de seu rosto. - Desde quando você é tão gay, querido? Eu tenho certeza de que você gostou. CERTEZA. Caso contrário não daria um ataque histérico como esse. - Ela se levantou e voltou a sentar no sofá. não disse mais uma palavra sequer.
- Pois é, ... Nada a comentar. - disse, com um claro tom de deboche.

Em seguida segurou uma de minhas mãos e me olhou.
- Me desculpa. - Ele deu um beijo na minha mão. - Me desculpa, por favor.
- É, eu acho que é de família. - disse ao se levantar. - Eu vou lá na cafeteria, sabe... Depois eu volto.



Capítulo 8 - Misguided Ghosts



Mais uma manhã fria de dezembro. Mas havia algo claramente diferente. Havia uma felicidade notável no rosto de cada pessoa. Havia um ar diferente. Como se tudo estivesse mais leve, como se as preocupações tivessem sido esquecidas... Mesmo que só por um dia. As únicas preocupações ali presentes eram os enfeites da árvore de natal, o cor da toalha da mesa e a ansiedade pela meia-noite para finalmente poder abrir os presentes.

Meredith, , meu pai e eu estávamos na cozinha. Era engraçado. Parecíamos só mais uma típica família em meio ao feriado mais importante do ano enquanto tentávamos preparar receitas tiradas da internet. Todos com seus suéters de lã vermelhos e verdes com bonecos de neve, renas e um papai noel gordo estampados por todos os lados. Meredith andava de um lado para o outro enquanto pensava em como ela colocaria um perú daquele tamanho em nosso forno minúsculo. Meu pai estava desesperado porque não encontrava a estrela para colocar em cima da árvore. Eu e estávamos sentadas na bancada da cozinha fazendo biscoitos com as formas mais estranhas e diversas possíveis.

Depois de meu pai até desistir de procurar a tal estrela, eu resolvi ir até o sótão, afinal acho que era o único lugar em que ele ainda não havia procurado.


Como já era de se esperar, eu encontrei a estrela. Ela estava em uma caixa imensa, cheia de coisas velhas como meus brinquedos de infância e alguns papéis. Encostado, com suas portas viradas para a parede, havia um elegante guarda-roupa, todo detalhado e empoeirado. E como a curiosidade é um monstrinho que não se permite parar até conseguir o que quer... Eu fui até o guarda-roupa para virá-lo e ver o que poderia ter de tão importante dentro, já que ele foi claramente virado de frente para a parede para que ninguém o abrisse... Deixei a caixinha com a estrela no chão e comecei a afastar o guarda-roupa da parede, devo dizer que demorei alguns bons minutos, pois era um móvel incrivelmente pesado e provavelmente de madeira maciça. Quando eu consegui uma distância suficiente, me aproximei maravilhada e abri as portas.


Dentro do guarda-roupa havia alguns vestidos pendurados. Na primeira gaveta, um álbum de fotos e uma delicada caixinha de joias que, ao ser aberta, iniciou uma fraca canção. Eu estava com medo de abrir o álbum, então resolvi deixá-lo junto à caixinha da estrela e levá-lo até meu quarto para que eu pudesse vê-lo depois... Ou quando estivesse pronta. Na gaveta de baixo, encontrei um perfume. Aquele móvel deveria estar ali há uns 15 ou 20 anos e o perfume mantinha sua agradável fragrância intacta, era de um cheiro tão suave e familiar que eu não hesitei em passá-lo. E na última gaveta tinha um chapéu enorme... E mexicano, ou melhor, um sombreiro e nada mais, e isso me fez sorrir. Um sombreiro!? Espera essa não é a pergunta certa: POR QUE um sombreiro? Okay, acho que isso não me levaria a lugar algum... Além disso, meu pai já deveria ter notado a minha demora.


Quando me levantei e estava prestes a fechar as portas, percebi que havia um pequeno baú de madeira bem no fundo do guarda-roupa, em baixo de todos aqueles vestidos. É claro que eu o peguei. E quando decidi abri-lo, ouvi meu pai gritando o meu nome. Então coloquei o baú junto à estrela e ao álbum de fotos e empurrei o guarda-roupa de volta ao seu lugar. Depois peguei os objetos e saí do sótão, descendo as escadas e os levando até meu quarto, onde os deixei de baixo de minha cama. E desci novamente as escadas mas, dessa vez, as escadas que levavam à sala de estar e entreguei a estrela para meu pai.


- Você procurou na casa toda, como conseguiu não pensar no sótão? - Eu disse, rindo.
- É... Ah, eu me esqueci que a gente tinha um sótão. - Ele disse ao subir a escada que estava ao lado da nossa enorme árvore de natal. Eu puxei a barra da calça dele antes que ele pudesse colocar a estrela na ponta da árvore.
- Pai, espera! Deixa eu colocar, vai! - Ele sorriu e desceu os degraus, entregando a estrela em minhas mãos. Assim que eu a coloquei em seu lugar, meu pai acendeu as luzinhas e de repente a sala inteira estava toda colorida e brilhante. Já que estávamos só eu e meu pai na sala, resolvi tocar em um assunto mais delicado.
- Pai?
- Sim? – Ele desviou os olhos das luzes e olhou para cima, onde eu ainda estava sobre a escada.
- Sabe... Eu sei que a minha mãe morreu logo após o meu parto... Mas... – Eu tentava ser o mais delicada possível, tentando analisar cada mudança em sua expressão. – Ela teve a chance de me ver? Ou mesmo de me segurar no colo? Eu digo... Você sabe, pelo menos uma vez? Ela me conheceu? – Meu pai olhou para o chão por alguns instantes, passou uma de suas mãos na cabeça e depois voltou a me olhar nos olhos.
- Não. Ela estava muito fraca. – Ele não disse mais nada, deu de ombros como se fosse o assunto mais irrelevante de todos e voltou a mexer nos enfeites da árvore. Eu entraria em mais detalhes, mas não tive coragem. Eu sabia que aquilo o machucava. Então desci da escada e tentei não me importar muito.
Eu queria esperar mais um pouco para ver o álbum de fotos e o que tinha dentro daquele baú, mas não aguentei.
- Ah, pai, eu vou lá escolher a minha roupa pra hoje à noite, depois eu volto. – Eu disse e sai correndo escada à cima. Eu me sentia bem melhor agora que já fazia quase uma semana depois da minha primeira sessão de quimioterapia, mas isso não duraria tanto.
- Eu pensei que você já tivesse feito isso. – Ele disse, fazendo com que eu parasse quase na metade da escada.
- Sim, mas... É, eu não sei se a roupa que eu escolhi é exatamente apropriada, sabe? – Eu falei, me enrolando com as palavras.
- Tudo bem então. – E eu continuei a subir.

Cheguei até meu quarto e tranquei a porta. Depois corri até minha cama e retirei o álbum de fotografias e o baú e me sentei.
O baú não me interessava muito, o que eu realmente queria ver era o álbum. E foi a primeira coisa que eu peguei. Eu jamais tinha visto sequer uma foto da minha mãe. Então ao abrir e ver a primeira foto, um novo tipo de felicidade me invadiu... E depois me encheu de tristeza. Porque eu não a conhecia. E não a conheceria. Ela era linda. Uma mulher alta, loira, dos olhos claros. Deveria ser uma pessoa alegre. E eu mal sabia o seu nome. Tudo o que eu conhecia dela era sua aparência. Bom, pelo menos era melhor do que nada. No final do álbum havia algumas fotos de uma viagem ao México e então entendi o significado do sombreiro para eles. Meu pai e minha mãe deveriam ser um casal engraçado, suas fotos me faziam rir, me faziam feliz.

Assim que fechei o álbum, olhei para o baú e o coloquei em meu colo. O interesse me subiu à cabeça. Ali poderia ter mais informações sobre minha mãe. Ao abrir o baú, tudo o que eu via eram envelopes. Peguei o primeiro. Era uma carta romântica, escrita por minha mãe. E lá estava seu nome. Era uma carta escrita por Lis, minha mãe. Ela dizia o quanto o amava e o quanto se sentia mal por tudo o que estava acontecendo. Ela prometia melhorar o mais rápido possível, pois não aguentava mais ficar longe dele. O endereço escrito no remetente era “Clínica de Reabilitação Claustro”, e no campo de destinatário havia o endereço da antiga casa de meu pai. A carta era de Agosto de 1989, ou seja, uns 4 anos antes do meu nascimento. Essa deveria ser a época em que eles estavam na faculdade... Ou um pouco depois.

Todas as cartas eram de minha mãe. Havia até mesmo poemas. Ela escrevia para ele todo mês e, às vezes, toda semana. Eu fiquei mais de uma hora lendo tudo até chegar à última. Esta era diferente. Um envelope totalmente branco onde só havia o nome do meu pai, ou seja, uma carta entregue em mãos, ou já deixada em algum lugar onde ele encontraria.
A data escrita nessa carta era 17 de Fevereiro de 1993. Deveria ter algo errado. Eu nasci em 15 de Fevereiro desse mesmo ano. Eu li e reli a data para me certificar de que não havia entendido errado. Era 17 de Fevereiro de 1993. E isso significava que meu pai estava mentindo para mim. Durante 17 anos ele escondeu de mim. Mas eu não tive tempo de me irritar com ele, eu precisava ler aquela carta.

Derek, me desculpe. Eu preciso que você me entenda, por favor. Eu não quero e não posso continuar aqui. Pelo menos não desta maneira. Caso contrário eu prejudicarei nossa filha, eu não serei a mãe que ela precisa, e talvez eu esteja errada sobre tomar essa atitude, mas não tenho coragem de continuar aqui machucando a você e machucando á ela. Entenda-me, meu amor. Eu continuarei mantendo contato, eu farei visitas e nunca deixarei de ser mãe dela, eu só não posso ser mãe dela enquanto eu sei que acabarei a machucando. E isso é minha culpa. Mas não leve isso como uma desculpa, eu amo vocês e certamente nada, além disso, importa. Eu só preciso de um tempo. Das últimas vezes eu não consegui, eu não levei a sério e continuei a usar drogas e beber. Eu errei, me desculpe, por favor. Mas eu não quero que isso aconteça novamente. Não agora que nós temos ela em nossas vidas. Estarei em Los Angeles, na casa de minha mãe, e antes que você perceba eu estarei de volta para vocês. Não se preocupe, pois eu te ligarei todas as noites. E eu lhe prometo que desta vez é verdade, eu não vou perder a melhor coisa que me aconteceu durante todos esses anos. Até logo. Eu te amo, Lis.


Eu ouvi três batidas na minha porta seguidas pela voz de .


- ?



Capítulo 9 - Jingle Bell Rock



Ao ouvir chamar pelo meu nome e girar a maçaneta, meu coração acelerou tão rapidamente que pareceu tentar fugir do meu peito. Então, escondi a carta debaixo de meu travesseiro e empurrei o baú para baixo de minha cama novamente. Me levantei e abri a porta. Meu rosto estava horrivelmente pálido e eu mal conseguia disfarsar.


- Do nada você sumiu e demorou tanto para descer... Aconteceu alguma coisa? - Ela perguntou, percebendo meu estado de pânico momentâneo.
- Não, na verdade, eu estava só escolhendo uma outra roupa, porque aquela roupa que eu tinha escolhido não parece ser uma roupa muito apropriada, sabe? - Eu disse, perdida em meio às minhas próprias palavras. - Mas agora eu decidi usar essa aqui mesmo. O que você acha?
- Ah, entendi... - Ela disse com um claro tom de sarcasmo, mas fingiu não se importar. - Ah! Eu achei essa roupa... Muito... Apropriada. Mas então, eu estava te procurando para saber se você não quer ir comigo para minha casa. Tipo, para ver se a minha roupa tambem é apropriada, sabe?
- Sim, sim. Mas eu fiquei de ver algumas coisas aqui para ajudar meu pai, sabe? Por que você não vai lá na sua casa, traz o que você precisa e eu te ajudo? - Mostrei um fraco sorriso.
- Claro... É... Eu já volto, okay? - Ela se virou encostando a porta. Assim que ouvi seus passos sumindo nas escadas, tranquei a porta e, outra vez, retirei o baú e a carta de seus esconderijos.


Ao guardar a carta com as demais, me lembrei das palavras de minha mãe, enquanto tentava digeri-las em minha mente.
Agora imagine você passar a sua vida toda lidando com o fato de que sua mãe está morta e, então, aos 17 anos você descobre que, na verdade, ela esteve viva por todo esse tempo. Ou em outras palavras: Descobrir que os 17 anos que você viveu não passam de uma mentira. E pior ainda, este fato foi escondido pela única pessoa em quem você achava que podia confiar. Espera aí, só para piorar um pouco, hoje é natal.


Seria mais normal se ao menos eu estivesse chorando... Ou quem sabe, com vontade de chorar. Ao invés disso, tudo o que eu sentia era vazio. Se meu pai mentiu sobre a morte de minha mãe, o que mais poderia ser mentira? Mas eu não parava de pensar em tudo o que ele faz por mim e no que já havia passado.

chegou em meu quarto e se sentou ao meu lado, me observando.


- Eu sei que tem algo acontecendo. Eu sei que você não está bem agora, e que não vai me contar o que é. Mas eu não quero que você se preocupe ainda mais por minha causa. - E ela me abraçou.
- Eu prometo que vou contar, mas não posso agora. Eu não consigo. - Eu retribuí o abraço. - Assim que puder, eu te conto, okay? - Ela só assentiu. Em seguida abriu sua mochila e despejou tudo o que estava dentro sobre minha cama.
- Bom, nós temos muito trabalho. Ainda temos que tirar essa cara de morta de você. - Ela riu de sua própria piada, depois me levou até o banheiro e abriu a torneira da banheira.


A tarde passou depressa, e logo nós estávamos na sala, chacoalhando caixas de presentes, tentando adivinhar o que havia dentro. Eu sentia falta de quando nós duas éramos crianças e passávamos o dia todo nos maquiando, colocando roupas de nossas mães, ou melhor, de Meredith, para fazermos absolutamente nada à noite.


A campainha tocou pela primeira vez naquela noite, era minha avó. A pessoa mais escandalosa e sem noção que eu conhecia. Ela e se davam muito bem. Devo ressaltar: MUITO bem. Ela trazia consigo um saco vermelho, estilo Papai Noel. Os presentes dela eram os melhores.
Depois de minha avó, a campainha tocou novamente. Desta vez, era Rachel. Como seus pais moravam na Inglaterra, ela passava todos os feriados com a gente, nós a considerávamos parte da família... Como uma prima ou algo parecido.


Então, finalmente, , e seus pais chegaram. Todos vestindo suéters parecidos, como deviam fazer desde... Sempre.
Assim que passou pela porta, o encarava como se fosse devorá-lo. Como se ele fosse a sobremesa ou, até mesmo, o prato principal.
Seria uma longa noite, definitivamente... Porém inesquecível.


Agora que nossos convidados estavam presentes e a meia-noite se aproximava a cada minuto, nos sentamos todos à mesa, mais conversando do que comendo, é claro. Vovó contava a mim e sobre seu novo namorado e o seu "apetite sexual selvagem". Era difícil acreditar que aquela mulher tinha só um filho, sinceramente. Depois, vovó se mudou de lugar e fora "conversar" com Meredith.
, por mais incrível que pareça, sentou-se ao lado de , por livre e espontânea vontade, mostrando-lhe um sorriso. Para você ver como o espírito de Natal é milagroso.


Meu pai conversava com os pais de sobre gripes e resfriados e, por mais estranho que isso seja, eles pareciam bastante interessados nesse assunto.


Eu e nos abraçávamos e beijávamos a cada 5 minutos. E eu percebia que vovó falava sobre nós com Meredith, que ria o tempo todo.
Sempre que virava a cabeça ou desviava o olhar, se virava para Rachel e tinha uns bons 5 minutos de surto.


Depois da ceia [/que parecia não terminar] fomos todos para a sala, esperar pela meia-noite. Então, pegou minha mão e me levou até a varanda. Quando chegamos lá, ele me pegou pela cintura e me colocou sentada na sacada, beijando meus lábios com pressa e, em seguida, meu pescoço. De repente, nós ouvimos alguns gritos e risadas. Interropemos os beijos e olhamos em direção ao jardim. Eram e , literalmente jogados na grama, agarrados um ao outro. estava em cima de , que mantinha suas pernas em volta de sua cintura, eu mal podia ver onde a saia de seu vestido estava.


- Será que... - Eu não conseguia continuar, mantinha meus olhos vidrados naquela estranha cena. - Será que eles estão... Será que eles vão... É... Você sabe, né? - riu e depois me olhou nos olhos.
- Eu não sei... Mas quem está se preocupando com isso agora? - Ele continuou a me beijar. Então eu coloquei minha mão sobre sua boca e me virei.
estava agora sem camisa e eu mal conseguia enxergar ... Quem dirá o seu vestido.
- Será que a gente deve fazer algo? Eu digo, jogar uma camisinha ou qualquer coisa do tipo? - Ele riu novamente e me abraçou por trás, observando-os por cima de meu ombro.
- Sabe o que eu acho? A gente não deveria é ficar aqui assistindo. Afinal, nós não precisamos assistir algo que podemos fazer, concorda? - Ele brincava com uma mecha de meu cabelo.
- Sabe o que EU acho? Você deveria ser um pouquinho mais paciente. - E o beijei.
Olhei para baixo mais uma vez e agora, e não estavam mais lá. Segurei a mão de e voltamos para a sala. Faltavam apenas 10 minutos para a tão esperada troca de presentes. Pouco tempo depois e apareceram na porta da sala de mãos dadas dando risadinhas, como dois completos idiotas, e sentaram-se junto a nós. Eu pude ver vovó dando um leve empurrão no ombro de e depois "sussurrando":
- Acertou em cheio, hein, filha? - encostou sua cabeça nela dizendo o que eu pensava ser algo como "Feliz Natal" e depois as duas riram.


Então meu pai, que havia ido até a cozinha, voltou com algumas garrafas de vinho. Ele deu uma olhada no seu relógio e tirou um saca rolhas do bolso.


- Feliz Natal! E que nós tenhamos vários como este pela frente! - Ele sorriu e depois de uma fração de segundo ouvimos o estouro da rolha sendo retirada da garrafa.
- AH, FELIZ NATAL, QUERIDOS! - Vovó se levantou distribuindo abraços apertados e marcas de seu batom vermelho, sua marca registrada.


Todos se levantaram e comprimentaram uns aos outros. Meu pai mantinha seu braço sobre os ombros de Meredith. abraçou e deu em beijo na bochecha de . Eu me virei para e o beijei. Então, eu chamei Rachel e e nos abraçamos. Em seguida, meu pai pegou a touca de Papai Noel e a colocou, isso era algo que nós fazíamos todos os anos: a pessoa que queria entregar seus presentes tinha que usar a touca. Ele se abaixou, pegou várias caixas de presentes, as colocou sobre o sofá e começou:


- Bom, este aqui - Ele pegou a primeira caixa. - É para você, querida. - Então entregou o presente à Meredith e lhe deu um beijo na bochecha. Ela o abriu. Era um colar dourado com um pequeno pingente brilhante, então ele continuou.
- Este... - falou com uma outra caixa vermelha nas mãos. - é para minha mãe. Mãe? Cadê você?
- Oh filhote! Eu tô aqui! - Nós a vimos descer a escada usando um curto vestido de látex e um par de botas plataforma, ambos vermelhos com detalhes pretos. Ela também trazia seu saco de Papai Noel nas costas. Meu pai, boquiaberto, a observava. Quando vovó finalmente chegou a sala, ele não conseguiu se segurar, e começou a rir, como todos nós.
- Este é o seu presente, mamãe. - Ele disse entregando a caixa com um sorriso no rosto. Vovó o abriu e retirou um relógio cuco. Então meu pai deu corda nele e o programou para 1 minuto antes da meia-noite e, quando esse 1 minuto passou, uma miniatura do Elvis pulou fora de uma pequena portinha e começou a dançar enquanto tocava "Viva Las Vegas". Não preciso dizer que vovó adorou, né? Ela é apaixonada por ele.
- E por último, minha filha. - Ele saiu correndo escada acima e em poucos minutos estava de volta com uma coleirinha verde em uma das mãos. Eu me levantei, então, ele se aproximou e me mostrou a outra mão, que estava escondida atrás de suas costas.


Era um filhote de vira-lata, branco com uma manchinha caramelo em volta de seu olho. A coisa mais fofa que eu já tinha visto. Eu o peguei e ele começou a me lamber, e então dei um forte abraço em meu pai para agradecer.


Eu peguei a touca que estava na cabeça de meu pai e a coloquei sobre a minha. Era minha vez de entregar os presentes. Eu entreguei o de , seus pais, , Rachel, vovó e meu pai. se levantou, pegou a touca de minha cabeça e a colocou. Entregou o presente de sua mãe, o meu, o de Rachel e o de meu pai. Depois foi a vez de Meredith. E depois dela Rachel. Logo em seguida e sua familia também entregaram os seus. E por último, foi a vez de vovó. Ela abriu seu saco vermelho, começou a entregar seus presentes e depois pediu para que só abríssemos quando estivessemos sozinhos.
Depois de mais algumas horas de conversa na sala, , e seus pais foram embora e Rachel também, pois pegaria um voo de manhã para visitar seus pais e só voltaria dalí uma semana. Vovó ficaria em nossa casa até o ano novo. Então eu e fomos até meu quarto com Ringo, o nome do meu novo cachorrinho, para abrir os presentes "secretos" de vovó. abriu o seu primeiro, eram algemas forradas com plumas vermelhas.


- Ah, isso seria "apropriado" para você usar com o , não é mesmo? - Eu disse rindo. Ela ficou super sem jeito, e começou a rir também, mas logo mudou de assunto.
- Abre o seu presente logo.


Eu abri a caixa e no começo não entendi muito bem o que era. Eu tirei algo parecido com uma calcinha de couro, mas também vinha um controle remoto.


- Você sabe o que é isso? - Eu disse mostrando para .
- Você tá falando sério? - Ela me perguntou.
- Sim, né? Por quê? - Ela riu.
- É uma calcinha... A única coisa que muda é que ela tem alguns poderes especiais... Eu vou te mostrar. Vai no banheiro e coloca. - Eu me levantei e fiz o que ela pediu. Enquanto eu estava no banheiro ouvi perguntar:


- Já colocou?
- Quase... Pronto! - Eu respondi.
- Não precisa nem sair. Só espera um pouco. - disse e provavelmente apertou algo no controle remoto, porque de repente eu sentia como se houvesse um celular tocando dentro de minha calcinha. E ficava mais intenso a cada instante.
- Ah Deus! O QUE É ISSO? Desliga, . Você tá me ouvindo? FAZ ISSO PARAR. AGORA.
- Ah não, vai... Só mais um pouquinho. - Ela disse rindo.


Eu juro que queria abrir a porta e quebrar a cara dela, literalmente, mas... Sabe como é, né... Não dava. Nesse momento, meu pai bateu na porta.


- Meninas? - Ele disse. levou um susto tão grande quando viu a maçaneta da porta se mexendo que acabou jogando o controle para baixo da escrivaninha. Meu pai entrou no quarto.
- Cadê a ?
- MEU PAI DO CÉU! - Eu gritei involuntariamente.
- , está tudo bem aí, filha? - Meu pai disse se aproximando da porta do banheiro, tentando abri-la.
- NÃO ABRE ISSO NÃO! EU... AH PAI! TÁ... TÁ... TUDO BEM. NÃO PODERIA ESTAR MELHOR! - Eu arranquei a calcinha e abri o chuveiro.
- Ela está só... Tomando banho. Isso! Ela está tomando banho! - disse aliviada.
- Ok. - Meu pai disse desconfiado. - Meredith disse que vai dormir aqui hoje, ela queria saber se você também vai.
- Ah sim, eu vou.
- Certo então. - Ele olhou para porta do banheiro novamente e saiu do quarto.


Assim que ouvi a porta batendo, fechei o chuveiro e saí do banheiro batendo em , que não parava de rir. Então a porta se abriu novamente, desta vez era vovó.


- Gostaram dos presentes? - Ela disse, com um sorriso malicioso.
- A que o diga... Ela até já usou. - disse voltando a rir.
- Como assim? - Vovó perguntou me olhando.
- Ela está brincando, vovó. Mas, você, por um acaso, andou assaltando sex shops por aí?
- Não. É claro que não. - Ela riu. - Eu comprei um.



Capítulo 10 - The Ugly Truth



Estávamos todos na casa de Meredith para a festa de Ano Novo. Eu e havíamos passado o dia inteiro nos arrumando para a noite. Eu achei melhor começar logo a contar para ela toda a história de minha mãe, porque não sabia em que outro momento eu conseguiria criar coragem, a não ser este.


- Eu te devo uma promessa, você se lembra? - Eu perguntei.
- Como assim? Que promessa? - Ela disse.
- Lembra na véspera de Natal? - Eu ia continuar, mas ela me interrompeu.
- Ah sim. Você vai me contar agora?
- Eu acho mais fácil te mostrar. Mas para isso, nós precisamos ir até a minha casa, okay?


Então nós avisamos à meu pai e Meredith e dentro de mais ou menos 3 minutos já estávamos em meu quarto, eis então um dos privilégios de ser vizinha da sua melhor amiga. Assim que abri a porta, fui em direção à minha cama, me abaixei, retirei o velho baú de madeira debaixo dela e me sentei. se sentou ao meu lado.


- Era esse o motivo pelo qual você estava mal? Um baú de madeira? - Eu olhei para ela sem paciência.
- É, , é por isso. - Eu abri o baú e retirei as cartas, entregando-as na mão dela. - Mais especificamente, por isso.
- O que é isso?
- Você quer mesmo que eu te diga ou prefere ler antes que eu dê um tapa na sua cabeça? - Eu sorri sarcasticamente.


pegou a primeira carta, a abriu e começou a ler. Então eu me distraí olhando o baú vazio. Depois de alguns minutos observando, percebi que havia a ponta de uma fita vermelha em um dos cantos do fundo do baú e, ao puxá-la, descobri que havia um fundo falso.


- , dá uma olhada nisso. - Eu retirei o único objeto que havia escondido alí: um pequeno saquinho de pano amarrado. - O que é isso?
- Me deixa ver. - Ela pegou o saquinho de minha mão e o abriu, em seguida, despejou-o na palma de sua mão.
Era um anel de ouro branco, provavelmente de noivado, com uma pedra de brilhante razoavelmente grande.
- Certo, é um anel. - disse, o colocou de volta no saquinho, me devolveu e voltou a ler a carta.
- Você ainda não entendeu? , presta atenção... - Eu me interrompi. - Okay, espera. Primeiro, termina de ler as cartas. Você vai entender.


Enquanto ela lia, eu peguei o anel mais uma vez e fiquei o observando. O coloquei em meu dedo e depois o retirei, repetidas vezes. Fiquei imaginando o que poderia ter acontecido se certas coisas não tivessem acontecido com meus pais. Fiquei me perguntando por que minha mãe não havia voltado de Los Angeles. Será que ela nunca se preocupou em me conhecer? Será que ela não pensou em voltar nem sequer uma vez? E onde ela poderia estar agora se, de fato, não estava morta? Minutos depois terminou de ler todas as cartas.


- Eu não acredito. - Ela disse, com a última carta ainda em suas mãos. - Isso é mesmo verdade? O seu pai já sabe que... você sabe?
- Sim, eu acredito que seja verdade, pelo menos é o que parece, não é mesmo? Eu não acho que ela possa ter simplesmente errado a data ao escrever. E não, meu pai ainda não sabe... E eu não pretendo falar com ele sobre isso tão cedo.
- Mas... Você está bem? Porque isso não pareceu mexer tanto com você.
- Eu não sei. Eu não fiquei triste, e também não fiquei feliz. Foi tipo um meio termo, sabe? O que mais me machuca é o meu pai ter escondido isso de mim por tanto tempo. Eu não sei o que é ter uma mãe, eu tive que conviver com o fato de que minha mãe estava morta durante a minha infância e minha adolescência e que eu não podia fazer nada em relação a isso. Sem contar que ela nunca quis saber de mim, ela nem sequer me procurou. Ela nem deve saber meu nome.
- Você não pode dizer isso. Você não sabe o que aconteceu. E enquanto você não souber todos os lados, você não pode julgar ninguém.
- Mas, de qualquer jeito, foram 17 anos. Ela podia ter me ligado, mandado cartas, ou aparecido do nada na minha porta. É como se ela não tivesse tentado o suficiente, entende? Eu sou a filha dela. Ela não deveria abrir mão tão fácil.
- Você não sabe o que aconteceu. E se ela já tenha feito de tudo para te achar? Você já pensou que talvez o seu pai tenha evitado ela esse tempo todo?
- "E se...", "Talvez...", eu não preciso disso agora. Eu preciso de um pouco de certeza.
- Você deveria falar com o seu pai, por mais impossível que isso pareça ser.
- Isso está completamente fora de cogitação agora. É complicado.
- Você vai pensar em algo e, é sério, se você precisar de alguma coisa... Já sabe, né? Agora, dá um sorrisinho. A gente ainda tem uma festa para ir. - Ela sorriu, eu retribui. Então guardei as cartas e o anel no baú, os coloquei no lugar de sempre e nós voltamos para a casa de .


Vovó estava sentada ao lado de na sala de estar, os dois estavam conversando. E estava conversando com Meredith. Havia vários médicos amigos de meu pai, ou seja, tédio total e absoluto. Se eu ficasse lá teria de aguentar eles falando sobre a minha doença o tempo todo. Mas tive uma ideia melhor. Assim que me viu, se levantou e veio falar comigo.


- O que vocês estavam fazendo?
- Ah, nada de mais. - Eu peguei uma de suas mãos. - O que você acha de a gente ir para minha casa? Nós podemos pegar algumas bebidas e ficar lá sem fazer nada e eu garanto que vai ser mais divertido do que ficar aqui. Aí nós voltamos antes da meia-noite. Que tal?
- Por mim tudo bem. - Ele sorriu. - Eu vou chamar o e a , tudo bem?
- Claro. Enquanto isso eu pego as bebidas e vou lá esperar por vocês. - Dei um beijo nele e fui para a cozinha.


Depois de pegar algumas bebidas, fiz o que havia dito a : fui até minha casa, e as coloquei sobre o balcão. Então ouvi algumas vozes se aproximando. Eram , e . Os três entraram, foram até a cozinha, onde eu estava, e se serviram. Depois de uma garrafa de whisky e já estavam nas preliminares. pegou uma garrafa de vodka e me puxou até o quarto do meu pai, que foi o primeiro que ele viu. Eu me sentei na cama e me acompanhou.


- O que você quer fazer agora? - Ele perguntou abrindo a garrafa.
- Eu esperava que você me dissesse. O meu plano era ficar aqui sem fazer nada.
- É... Mas você quer mesmo só ficar sem fazer nada? - Ele falou e bebeu um gole.
- Nós podemos conversar... - Eu peguei a garrafa da mão dele e coloquei no criado-mudo ao lado da cama. - O que você quer fazer?
- Você disse que eu preciso ser paciente. - Ele pegou de volta a garrafa e bebeu mais alguns goles.
- Ok, você quer saber o que a vovó me deu de Natal?
- O que? - Ele perguntou me olhando. Então eu me levantei, fui até meu quarto, peguei a calcinha, o seu controle remoto e voltei para o quarto de meu pai.
- Uma calcinha? Com um controle? - Ele disse segurando a calcinha e a observando.
- Sim e sim. Ah, e ela também vibra. - Ele olhou para mim e depois para a calcinha.
- Você já experimentou?
- Como assim?
- Bom, se você já usou para saber como é. Para saber se é bom, sabe?
- Ah tá...
- Você já usou, né?
- Não foi bem a minha intenção. A culpa é totalmente da .
- Você usou com a ?
- NÃO! Claro que não! Eu não sabia o que era, então ela pediu para eu vestir, depois ligou pelo controle remoto. Ah, isso sem contar que meu pai entrou no quarto. Sorte que eu estava no banheiro. - Ele colocou a calcinha na cama e se virou para mim.
- Então, isso de ser paciente... Eu vou ter que ser paciente por mais quanto tempo?
- Pelo tempo que for preciso.
- Mas eu ainda posso te beijar, não é? - Ele se aproximou um pouco mais de mim mas parou no meio do caminho, como se tivesse se lembrado de algo. - Espere um pouco. - Ele disse se sentando de costas para mim e mexendo em sua camisa. Instantes depois, se virou novamente e deitou-se ao meu lado.
- O que foi?
- Seu presente de Natal atrasado, ou melhor, agora é seu presente de Ano Novo. - Ele disse rindo ao pegar minha mão direita e colocou uma aliança prata toda detalhada no meu dedo anelar. Em seguida, me deu uma outra aliança e estendeu sua mão direita para que eu colocasse nele.
- Obrigada. - Eu me virei para ele e o beijei. Ficamos lá por mais uma hora aproximadamente e depois descemos.


Quando chegamos à cozinha, ainda estava sem camisa, e fechando o zíper do vestido de .


- Ah, que pena. Acho que nós perdemos a festa. - Disse , com tom de deboche.
- Cala a boca, . - respondeu, vestindo sua camisa, enquanto calçava seus sapatos.
- Bom, eu acho que vou me retirar. Vejo vocês depois. - disse, com um sorriso no rosto.
- Espera, eu vou com você. - disse, pegando sua mão. Eu e os seguimos sem dizer nada.


Já era quase meia-noite quando meu pai veio falar comigo.


- Eu acho que tenho um presente de Ano Novo pra você. - Ele disse me abraçando.
- O que é? - Eu falei com a esperança de que ele me viesse com uma coisa extraordinária. E ao invés disso, ele tirou duas passagens do bolso.
- Não sei se você vai gostar, é meio que um presente duplo. Aqui estão duas passagens para Los Angeles. - Ele disse, entregando-as em minhas mãos. - Você pode levar quem quiser.
- Mas... Pra quê?
- Nós encontramos um doador de medula óssea compatível.
- Você... Pai, você tá falando sério? Sério mesmo? - Eu o abracei o mais forte que pude e não consegui conter as lágrimas. Meu pai também estava chorando.
- Eu te amo, filha. Eu te amo muito.
- Eu também, pai. Muito. - Rapidamente, ele enxugou as lágrimas.
- Ah, eu provavelmente vou acabar com o nosso momento pai-filha agora, mas eu devo te lembrar que existem chances, poucas mas existem, de seu corpo rejeitar o transplante, entende?
- Pai, isso não é hora para o seu lado médico falar, okay? Fica tranquilo. - Ele riu e me abraçou novamente.
- Eu só... Eu não quero te perder.
- Você não vai me perder.
- Promete?
- Para de ser carente, pai. É claro que eu prometo. - Então ele sorriu.


Eu espalhei a notícia para cada ser vivo que havia naquela casa. Ou melhor, e eu ficamos pulando e nos abraçando por uns 5 minutos enquanto contávamos a todos. Mas fiz questão de que soubesse disso por mim.

- Então, você vai para Los Angeles comigo, não vai? - Eu disse sorrindo, já sabendo a resposta dele.
- Como assim?
- Você vai pra Los Angeles comigo. Meu pai me deu duas passagens para que eu levasse alguém comigo, já que ele não pode ir. E eu quero que você esteja lá... Eu quero estar com você.
- Mas eu não posso ir. Eu não posso deixar tudo pra trás e ir para Los Angeles com você. Eu tenho meus amigos aqui... E as férias estão quase acabando.
- Mas é só por uma semana... No máximo duas.
- Eu não posso, .
- Você pode. Sabe qual é o problema? Você não quer. Porque o seu egocentrismo é mais importante, não é? Até mesmo mais importante do que o nosso relacionamento.
- Não é isso, você não vê? Eu não posso. E é você que está sendo egoísta agora. São só duas semanas, que diferença isso faz?
- Que diferença isso faz? Você tem certeza que está me perguntando isso? A diferença é que eu não estou indo para lá aproveitar minhas "férias", eu estou indo porque eu tenho câncer e essa pode ser minha única chance em muito tempo. Eu estou indo porque eu tive a sorte de encontrar um doador compatível depois de tão pouco tempo. Eu sou egoísta por isso? - Eu tirei a aliança que havia ganhado no mesmo dia. - E você sabe o que é isso? É só mais um anel. E eu não preciso disso. Eu não preciso de mais nada que venha de você, eu não preciso que você diga nem mais uma palavra, porque na verdade eu nunca tive nada disso. As promessas que você me fez, são só palavras vazias. Porque sempre que eu preciso de você, você tem algo mais importante para fazer. Eu não quero isso. Você não é quem eu imaginava. - Então, eu joguei o anel no chão e virei às costas.


Estavam todos lá fora, faltavam 5 minutos para a meia-noite. Eu sentei em um dos bancos que havia no jardim. Não chorei, mas isso não significava que eu não choraria. As coisas não estavam claras ainda em minha cabeça. Era muita informação. Eu não tinha tempo para pensar em , porque na mesma semana eu descobri que meu pai mentiu sobre a morte de minha mãe a vida toda, descobri que minha mãe está viva, e que em alguns dias eu estaria em Los Angeles e de repente, quem sabe, eu não teria mais câncer.


As pessoas, inclusive eu, sempre dizem que nada muda quando o relógio chega à meia-noite, elas dizem que a única mudança depois da meia-noite é a data, o ano marcado no calendário. Desta vez, eu não podia dizer isso. A minha vida virou de ponta-cabeça dentro dos últimos cinco dias do ano e eu me perdi ainda mais dentro dos últimos 5 minutos. Então, quando ouvi todos gritarem a contagem regressiva, me lembrei de tudo o que já havia passado com e tudo o que havíamos passado naquele mesmo dia, onde eu nem sequer pensei que algo pudesse dar errado, onde ele era minha única certeza. Eu não pretendia chorar, mas as lágrimas já estavam alí antes que me desse conta. Eles gritaram "Feliz Ano Novo" e, em seguida, vieram vários estouros de fogos de artifício.



Capítulo 11 - Tight Rope



- Será que você pode parar de enrolar e me contar logo? - Eu disse a .
- Eu não estou enrolando.
- É claro que você está. Já faz mais de meia hora que você está falando sobre garrafas de whisky e como elas são bonitas e bláblá.
- Mas elas são.
- Okay, eu já entendi. Agora me conta.
- Okay.


/flashback on


Assim que e subiram, me colocou em cima da bancada e tirou a sua camisa. Ele começou a beijar meu pescoço e abrir o zíper de meu vestido. Coloquei minhas pernas em volta de sua cintura e passei minhas mãos por suas costas e por seus cabelos enquanto o beijava. Com minhas pernas em sua cintura, me pegou no colo aos beijos e me encostou na porta, que estava fechada. Então, ele me colocou em pé e tirou meu vestido.


- Você não vai fugir de mim desta vez, vai? - Ele disse me olhando nos olhos, descendo sua mão por meu corpo até encontrar a minha e a segurou. Eu não pude encontrar as palavras e obrigá-las a sair, mas, como resposta, o beijei.

me levantou novamente segurando em minhas coxas e, depois, me colocou sobre a mesa. Eu desci minhas mãos por seu tórax até chegar em sua calça e a abri. Ele traçou um caminho de beijos até minha calcinha e a tirou. Eu senti sua língua em meu clitóris e depois descer até a entrada da minha vagina e penetrá-la. Eu levei minha mão até seus cabelos e os puxei.


- ... - Eu disse ofegante, parecendo um sussurro. Ele subiu os beijos novamente até meu pescoço e, suas mãos, até o feixo de meu sutiã.


Eu tirei sua boxer estampada com o Pernalonga, o que me fez rir. E as coisas foram, até ambos acabarmos suados e ofegantes.


/flashback off


- Sério? Sério mesmo? - Eu perguntei, desacreditada.
- Não, não. Eu só acabei de descrever um filme pornô que eu assisti ontem. - Ela respondeu sarcasticamente.
- Mas é sério?
- Sim, é sério. Pela última vez: É sério.
- E como foi? Eu quero dizer... Tipo, é bom? - Ela riu.
- Mas que pergunta, hein? Como eu posso explicar...? Lembra do seu incidente com a calcinha? - Ela disse.
- Aham.
- Então, é mil vezes melhor. Quer dizer, infinitas vezes melhor. Eu garanto.
- Agora eu estou deprimida. Eu sou uma virgem de 17 anos, sendo que minha única relação sexual na vida foi com uma calcinha vibradora, também estou sem namorado e com câncer, enquanto minha melhor amiga faz sexo com o meu ex-cunhado na MINHA cozinha. Isso é ótimo. - riu.
- Ah, para. Veja pelo lado bom: sua mãe não está morta, você está indo pra Los Angeles e voltará provavelmente curada. E tem uma coisa melhor ainda: você só passou pela quimioterapia uma vez, ou seja, seu cabelo não vai cair! Uhul pra você!
- Mas eu ainda sou virgem. Tomara que eu volte de Los Angeles com um californiano loiro e lindo, aí sim eu vou ficar feliz.
- Por mais que sejam apenas duas semanas, eu vou sentir sua falta. - Ela disse, me dando um abraço.
- Ah, eu pensei que você fosse comigo.
- Eu bem que queria, mas eu tenho tanto pra estudar. Com essa prova da faculdade chegando eu nem tenho tempo de ir para Los Angeles procurar um loiro lindo.


Depois de me contar sobre sua noite com , eu voltei para minha casa e fui logo ligar para Rachel, ela era a única pessoa em quem eu ainda tinha esperança para levar na viagem comigo. Por sorte, como eu já esperava, ela aceitou o convite. Agora eu só precisava avisar a meu pai.
Subi as escadas e fui até seu quarto. Abri a porta sem bater e, quando entrei, meu pai e Meredith estavam na cama se beijando.


- Ops, desculpa... E com licença, será que eu posso roubar meu pai por alguns minutos?
- Claro. - Meredith disse.
- Prometo que não vou demorar. - Eu disse enquanto meu pai se levantava.
Quando chegamos a sala, meu pai se sentou no sofá e eu me sentei ao seu lado.
- Então pai, é só pra te avisar que eu já encontrei alguém para ir comigo.
- Ah me deixa adivinhar... O , não é mesmo? Eu só quero que vocês tomem cuidado porque você é muito nova ainda, sabe, filha? E não é só por causa da gravidez, existem diversas doenças e... - Eu o interrompi, afinal aquele era um assunto totalmente desnecessário e constrangedor.
- Primeiro, eu não vou com o , eu vou com a Rachel. Eu terminei com ele. - Meu pai ficou parado absorvendo a informação e depois continuou.
- Hm... Sério? Quando?
- Ontem, mas isso não importa. E quanto ao assunto constrangedor, a vovó já conversou sobre isso comigo, fique tranquilo.
- Certo, certo. Hoje uma colega minha, a Dra. House, de L.A. que é oncologista e vai acompanhar o seu transplante de medula, me ligou e fez questão que ficasse na casa dela durante a viagem. O que você acha?
- Mas pai... Isso não é meio que... Estranho? Eu vou ficar na casa de uma pessoa que eu nem conheço?
- Filha, larga a mão de ser antissocial. A Dra. House é uma ótima pessoa e, se ela achasse isso estranho, não convidaria. Além do mais, ela ligou especialmente para isso. Amanhã, quando você e Rachel chegarem lá, ela e seu marido vão buscá-las no aeroporto. Vai ser bom ficar com pessoas confiáveis e que conhecem a cidade.
- Bom, se você e ela fazem questão, tudo bem. Agora eu vou arrumar minhas malas, boa noite, pai. - Eu disse, me levantando e dando-lhe um beijo na testa. Ele segurou minha mão antes que eu virasse as costas e se levantou.
- Você promete que vai ficar bem?
- Eu não posso prometer isso. Eu posso te prometer que vou fazer o possível, pode ser? - Ele sorriu.
- Então você promete que não vai me esquecer?
- Pai, que drama todo é esse? São por duas semanas e eu só vou para Los Angeles. - Ele me abraçou.
- Está bem, então. Sua mãe estaria muito feliz agora. - Meu pai nunca citava minha mãe, ele evitava tocar nessa palavra. Duvido que ele tenha dito "sua mãe" para mim mais de 4 vezes em toda a minha vida. Mas agora era diferente, eu sabia a verdade.
- Ah, sim, garanto que ela estaria. - Eu disse, com um leve tom de sarcasmo e virei as costas.
- Espera. O que você quer dizer com isso? - Então eu me virei para ele novamente.
- Você sabe o que eu quero dizer.
- Não, na verdade, eu não sei. Eu não faço a mínima ideia. - Eu não queria discutir com meu pai, não daquela maneira e também não por aquele motivo. Eu não podia ir para Los Angeles brigada com ele, mas o fato de que ele continuava mentindo para mim não me deixou evitar a discussão.
- Ah, então você quer dizer que não faz a mínima ideia sobre a mentira que você vem me contando há 17 anos? - Ele se sentou novamente e levou as mãos à cabeça.
- Como... Quando você descobriu?
- No Natal. Você achou que poderia esconder aquilo no porão por mais quanto tempo sem que eu percebesse? - Eu estava irritada. Depois de negar isso por mais de uma semana, eu descarreguei tudo em meu pai.
- , eu sei que o que eu fiz foi errado. Mas eu não pude voltar atrás, eu não pude desmentir, não pude contar a verdade. Por covardia. Muitas vezes eu quis te contar, mas você já havia sofrido tanto até o ponto em que se conformou. E eu não podia fazer você passar por uma coisa dessas de novo. - Ele começou a chorar, mal podia me olhar nos olhos. - Você não precisa me perdoar. Porque eu entendo, eu também não me perdoaria se a situação fosse invertida.
- Não, pai. - Eu me sentei ao seu lado e o abracei. - Eu sei que você errou... E eu também sei que isso não é qualquer coisa, foram 17 anos, mas não vou te culpar por isso para sempre. Eu não acho que você tenha sido covarde. Muito pelo contrário. Poucas pessoas teriam força para fazer o que você fez. E, por mais que isso seja estranho, eu ainda te admiro e te amo por tudo o que você é.
- Eu nunca quis te machucar ou mesmo te fazer sofrer, mas aconteceu que eu acabei complicando ainda mais as coisas.
-Está tudo bem, pai. Eu só peço que você não minta ou esconda mais as coisas de mim, okay? Senão aí, sim, teremos um problema. - Ele me deu um fraco sorriso. - Agora eu realmente preciso arrumar minhas malas... Antes que fique tarde demais.
- Certo, filha.
- Ah, mas antes eu preciso te dar um conselho amigável: acredite em mim, você quer limpar a sua cozinha. Boa noite.


Às vezes, é muito melhor dizer tudo que você pensa de uma vez ao invés de esconder isso dentro de você. Eu achava que, quando tivesse aquela discussão com meu pai, nós acabaríamos brigados, "odiando" um ao outro e passaríamos semanas sem nos falar. Mas o que eu consegui realmente foi ter ainda mais admiração e respeito por meu pai.
E depois de tudo o que havia acontecido naquele dia, eu só precisava dormir. Mas não foi bem isso o que aconteceu. Eu estava ansiosa e, quando conseguia cair no sono, Ringo, que estava dormindo comigo, me lambia ou latia. Eu tentava ficar brava com ele, mas era difícil resistir àquela carinha dele. Dormi muito pouco, mas isso não diminuiu minha ansiedade para o dia seguinte.



Capítulo 12 - La La Land



Eu acordei naquela manhã e quando estava a caminho da casa de Rachel com meu pai, Meredith e , olhei pela janela e tudo parecia estar diferente. Como se as coisas que eu já conhecia jamais tivesse sido vistas, na verdade, como se eu estivesse enxergando tudo diferente. Eu sorri o caminho inteiro e quando Rachel já estava conosco eu tinha certeza que ela me entendia... Ou talvez não, mas ela estava tão feliz quanto eu. Quando chegamos ao aeroporto, tive vontade de correr até o avião e entrar antes de todo mundo, mas antes tínhamos que fazer o check-in e depois passar por todo aquele drama da despedida. Meu pai chorando, como de costume, Meredith consolando ele e rindo comigo e com Rachel...
Agora éramos só Rachel, Ringo e eu. Rachel parecia nunca ter entrado em um avião, tudo o que a aeromoça oferecia, ela pegava e estava sempre apertando todos os botões que encontrava.


- Eu estou tão ansiosa, você não tem ideia. Será que ainda vai demorar muito? - Rachel perguntava isso repetidas vezes, até que caiu no sono. O que não duraria por muito tempo, já que a viagem não era tão longa. Por fim eu também acabei adormecendo, mas meu sono foi tão rápido que pareceram ter sido apenas 5 minutos.

Descemos do avião e fomos buscar nossas bagagens. O aeroporto era enorme, e Rachel não me deixava esquecer esse fato nem por um minuto. O pior foi que meu pai não havia dito nada sobre a aparência da tal Dra. House ou de seu marido, ou seja, estávamos procurando por pessoas que não fazíamos ideia de quem eram no aeroporto de uma cidade onde jamais havíamos estado. Excelente.

Eu estava começando a duvidar da inteligência de meu pai quando finalmente recebi uma ligação de um número desconhecido. Era Dra. House. Ela disse para irmos até o portão número 7, onde estaria nos esperando. E lá estavam, Dra. House e seu marido. Ela parecia ser uma pessoa bem-humorada e simpática, era linda, tinha os cabelos pretos e os olhos de um verde claro. Ele parecia ser um pouco rude, mas também bem-humorado. Tinha os cabelos levemente grisalhos, olhos azuis e usava uma bengala na mão direita, o que eu não pude deixar de notar.


- Bom, você deve ser , certo? - Ela disse me dando um abraço apertado... Apertado até demais para uma pessoa que eu nem conhecia, mas tudo bem. - Eu sou Lisa House, muito prazer. - Então ela se virou para Rachel e a abraçou. - Ah, você deve ser... ? Hm, eu estava esperando um namorado ou... Sei lá... Seu pai não havia me dito que era uma garota mas, tanto faz... Muito prazer. - Eu e Rachel começamos a rir.
- Não, não. - Eu disse. - Esta é Rachel, minha amiga. Eu iria mesmo vir com meu namorado mas... Tanto faz, é uma longa história.
- Ah sim, entendo. E este? Quem é? - Lisa disse, se direcionando a meu cachorrinho que ainda estava preso.
- Este é Ringo. Espero que não tenha nenhum problema... - Ela me interrompeu antes que eu pudesse terminar a frase.
- Não, problema algum. - Ela disse nos ajudando com as malas enquanto finalmente saíamos daquele lugar.
- A não ser que ele lata, solte pelos e faça xixi em qualquer lugar. - Seu marido disse, então, Lisa riu.
- Eu já havia esquecido, me desculpe... - Ela parou de andar por um instante e se virou para nós. - Este é meu marido, Gregory.
- Ou House, se você preferir algo mais formal. - Ele disse dando um sorriso sem graça e continuou a andar.


Nós andamos até o carro, colocamos as malas no porta-malas, entramos no carro e seguimos para casa de Lisa. Não sei quanto Rachel, mas eu fiquei fascinada com o céu. Ele estava rosa com tons de laranja, algo que raramente acontecia em Seattle.


- É lindo, não é? - Lisa disse. - Eu vejo isso todos os dias e ainda não me acostumei.
- Realmente. Ás vezes, isso acontece em Seattle, mas nem se compara ao céu daqui.
- OLHA, OLHA! - Rachel disse apontando para o mar. - MEU DEUS! É MARAVILHOSO! A gente pode vir aqui, um dia desses? - Ela parecia uma criança.
- É claro que sim. Amanhã, quando vocês estiverem descansadas, eu trago vocês. - Lisa disse rindo do entusiasmo de Rachel.
- Ah! Está bem, então.
- E quando nós vamos para o hospital? O transplante já está marcado? - Eu perguntei para Lisa.
- Então, quanto a isso, daqui a três dias nós iremos ao hospital fazer os últimos testes de compatibilidade. E, se tudo der certo, no dia seguinte ou no próximo, o transplante será feito. Acho que você não sabe, o seu doador é o Gregory.
- Ah... Sério? Bom, muito obrigada. Você não sabe a diferença que isso faz para mim. - Eu disse.
- Não é nada. Tanto faz, na verdade. - Ele respondeu.
- House! - Lisa disse olhando para ele com olhar de reprovação. Ele deu de ombros, fingindo não entender.


Nós chegamos à casa de Lisa, pegamos as malas e, em seguida, ela nos levou até nosso quarto.


- Eu espero que vocês se sintam à vontade. Agora eu vou deixar vocês sozinhas, porque preciso voltar ao hospital. Até mais tarde.
- Ah, obrigada! Eu preciso ligar para meu pai.
- Pode usar o telefone lá de baixo. - Lisa disse e saiu.
Eu desci as escadas e fui até o telefone que estava ao lado do sofá da sala. Disquei o número e esperei meu pai atender.
- Alô? - Meu pai atendeu.
- Oi, pai. Eu só estou ligando para dizer que nós já chegamos.
- Está tudo bem?
- Sim, nós passamos em frente a praia, Lisa disse que vai nos levar lá amanhã.
- Legal... E quanto ao transplante?
- Ela disse que daqui a três dias nós faremos mais alguns testes de compatibilidade e no próximo dia ou talvez no outro faremos o transplante.
- Então está bem, não esqueça de me ligar, okay? Eu te amo. Tchau.
- Eu também te amo. Tchau.


Eu voltei para meu quarto e vi que Rachel já havia arrumado quase tudo, então terminei de arrumar minhas coisas e coloquei Ringo em sua caminha, e me deitei. Pouco mais de uma hora, House foi até o quarto nos chamar para o jantar. Quando descemos, Lisa já estava sentada à mesa e acompanhada de uma mulher ruiva e um homem moreno que deveria ter uns 20 anos de idade.


- Ah, meninas! Esta é minha amiga de trabalho e também vizinha, - Ela disse apontando para a casa ao lado. - Addison e seu filho Fernando. Eu e Rachel nos aproximamos e os cumprimentamos. Então House, educadamente puxou as cadeiras para nós... Algo que deveria ser raro... A não ser que ele fosse meio bipolar.
- Eu espero que vocês gostem do jantar de hoje... Eu mesmo preparei essa receita de salmão grelhado e o molho. - Ele disse orgulhoso, Addison, Fernando e Lisa riram.
- Onde você aprendeu isso, querido? - Lisa disse.
- Internet. Já ouviu falar? - Então ele se sentou.
- Certo... - Lisa olhava para o pedaço de salmão em seu prato. - Experimente você primeiro então, okay? - Ela disse brincando, então pegou um pouco com o braço e pôs na boca. - Nada mal. - E depois deu um beijo breve em House.
- Que saudades... E quantas lembranças... Como anda Seattle? - Addison perguntou.
- Ah, nada muito diferente... Chuvosa como sempre... Nada de mais. - Ela sorriu.
- Sim, entendo, mas Los Angeles é bem melhor. Não me arrependo de ter mudado para cá.
- Ah então você era de lá? - Eu perguntei a Addison.
- Sim... Eu me mudei para cá quando Fernando tinha apenas cinco anos. Depois disso eu nunca mais voltei para lá.
- Ah, não perdeu muita coisa. Você voltaria para lá?
- Não. Se eu fosse, Fernando ficaria, já que ele não vive mais sem praia... E como eu também não vivo sem ele... - Eles riram.
- Ainda bem que você sabe, mãe. - Fernando disse com um sorriso.
- Por que você gosta tanto de praia? - Rachel perguntou.
- Eu surfo desde os meus seis anos. É uma coisa que eu amo e não pretendo parar.
- Fora que o sexo na praia é muito melhor. Não é, Lisa? - House disse e todos riram. - O único problema é a areia. Ela sempre entra nos lugares difíceis de tirar. - Todos olharam para House.
- Mas o peixe está ótimo. - Lisa disse, fazendo todos rirem novamente.
- Bom, eu já fiz o jantar... Então não queiram abusar de um deficiente, vocês se entendam aí e escolham alguém para lavar a louça. - House disse e se levantou.
- Eu lavo, pode deixar. - Eu disse, já recolhendo os pratos e talheres.
- Eu te ajudo. - Fernando disse logo depois de mim e foi recolhendo os copos.
- Tudo bem. - Lisa, Addison e Rachel se levantaram e foram para a sala com House.
- Então, você vai ficar por aqui até quando? - Fernando perguntou enquanto colocava os últimos copos na pia.
- Provavelmente por uma semana. Eu só vim para fazer o transplante.
- Ah sim, eu fiquei sabendo. Eu espero que dê certo.
- Obrigada. Então, você surfa, né? - Isso foi a coisa mais idiota que eu já disse.
- É, eu disputo campeonatos, e coisas assim.
- Já ganhou algum? - Outra coisa idiota.
- A maioria deles. Quem sabe algum dia eu entro para os mundiais. - Ele falou com um sorriso enquanto eu enxaguava os últimos pratos.
- Pronto. - Eu disse e esperei que ele terminasse e enxugar as louças. Depois fomos para sala onde estavam os demais.


Algum tempo depois Addison e Fernando foram embora. Todos eles eram muito diferentes do que eu estava imaginando: só mais alguns médicos chatos e antipáticos. Eles me fizeram sentir em casa... Como se aquele não tivesse sido meu primeiro dia em Los Angeles, como se eu já os conhecesse e, sinceramente, não há nada melhor do que isso.


No dia seguinte, era domingo, Lisa nos acordou cedo para irmos à praia. House disse que só havia um motivo que o faria ir para a praia: sexo, então acabou ficando. Na saída de casa, quando já estávamos no carro, vimos Fernando saindo de sua casa com uma prancha e já que ele estava a pé, Lisa ofereceu-lhe uma carona. Então, depois de colocarmos sua prancha no carro, partimos para a praia.
Estava frio por causa do inverno, o sol mal apareceu, mas Fernando, usando uma roupa especial, foi surfar mesmo assim. De qualquer forma, estava lindo, o som das ondas quebrando quando encontravam a areia compensava tudo. Lisa levou Rachel e eu até o farol para nos mostrar toda a extensão da praia. Depois chamou Fernando para irmos comer em um restaurante próximo dali.


- Então, meninas vocês gostaram do mar? - Lisa perguntou.
- Ah! Sim, é muito lindo. - Rachel disse.
- Talvez vocês possam entrar qualquer dia desses, se a temperatura subir. Quem sabe o Fernando pode ensinar algumas coisas de surf para vocês.
- Claro, seria um prazer. - Fernando disse. - Nós podemos marcar um dia, talvez.
- Mas tem que ser antes do meu transplante. - Eu disse tentando fazer com que eles desistissem dessa ideia.
- Então pode ser amanhã. - Lisa disse. - Tudo bem para você, Fernando?
- Sim. - Ele disse.


Assim que Fernando aceitou, eu fiquei apavorada. Eu nunca havia entrado no mar, muito menos encostado em uma prancha de surf.


- Mas eu não sei fazer isso.
- E é por isso que eu vou te ensinar. - Fernando disse me olhando.
- Mas eu nem sei nadar. Como eu vou entrar no mar sem saber nadar? - Eu retruquei.
- Sabe sim. - Rachel disse.
- Mas não no mar. - Eu disse.
- Por que você está com tanto medo? É só agua. Você sobe em uma prancha e acabou.
- Você diz como se fosse a coisa mais simples do mundo. Mas não é bem assim, você é profissional, é claro que é fácil para você.
- Então tá, a gente pode fazer outra coisa, se você não quiser surfar.
- Não, tudo bem. É só por um dia mesmo, certo? Eu posso confiar em você por um dia. - Eu acabei concordando, afinal um dia não iria me matar, iria?



Capítulo 13 - Summerboy



- , eu não te amo. - Ele continuava repetindo.
- Não fala isso de novo, por favor, .
- Eu não posso mentir para você. Eu não te amo.
- Mas eu te amo.
- Você não entende? Eu não mereço o seu amor. Eu não te amo mais.
- Mas... Você prometeu. - Eu chorava.
- Eu só prometi porque nunca pensei que deixaria de te amar, mas eu não te amo mais. - Então virou as costas e começou a andar. Eu fui atrás dele.
- Eu te amo! - Eu gritava.
- Esse é o problema. - E quando percebeu que eu o seguia, começou a correr. Estava noite e ele corria para o lado mais escuro. Tudo ia ficando cada vez mais escuro, até um ponto onde eu não podia mais vê-lo. De repente eu estava na praia. Havia sol de um lado e nuvens do outro. Então eu vi Fernando saindo da água. Estava frio de um lado, mas o sol parecia seguí-lo. Eu corri em sua direção... E caí. Essa foi a última coisa que me lembro e, então, acordei. Ou melhor, Lisa me acordou.


- ? Fernando acabou de ligar. Ele quer saber se você e Rachel precisam de uma roupa emprestada, sabe? De surf. Ah, e ele disse que estará esperando vocês duas em frente de casa daqui a 15 minutos.
- Como assim 15 minutos? - Eu disse indignada. - E como que uma roupa dele vai servir na gente? Ah entendi, nós duas podemos usar a mesma roupa ao mesmo tempo, né? - Ela riu.
- Coisa homem, . Ah, eu vou dizer a ele que vocês querem sim. Vai acordando a Rachel, eu vou lá ligar para ele. Depois desçam e tomem o café, já está na mesa.
- Okay.


Eu me levantei e troquei de roupa.


- Rachel? Acorda. O Fernando vai nos levar à praia daqui a pouco.
- O que? Que horas são? - Ela disse ainda meio que dormindo.
- São 7 e 23.
- Esse menino tem algum problema? Tipo, será que ele está tentando se castigar por alguma coisa? Será que ele sabe o que é dormir? De jeito nenhum que eu vou me levantar agora. - Ela colocou o travesseiro no rosto e acho que voltou a dormir. Depois de escovar os dentes, desci as escadas e fui até a cozinha.
- Cadê a Rachel? - Lisa me perguntou.
- Ah, ela já acordou cedo ontem... Meio difícil ela fazer isso por dois dias seguidos.
- Sente-se aqui e coma alguma coisa, eu disse para Fernando demorar mais um pouco, então você ainda tem algum tempo. - Eu me sentei de frente para Lisa e coloquei um pouco de leite em um copo. - O que você achou dele? - Ela disse com um sorrisinho de adolescente no rosto.
- De Fernando? Ah... Ele é legal. - Tomei um gole do leite para não ter que dizer mais nada.
- Legal? Só isso? Por acaso você não viu o que aquele menino carrega abaixo da cabeça? - Eu tive que me segurar para não cuspir o leite.
- Ah sim, aquilo? Realmente... Ele é... Bom, como eu posso dizer? Eu não me importaria se tivesse de olhar para ele durante um dia inteiro. - Nós duas rimos.
- E o seu namorado? Por que não veio?
- É complicado. Nós terminamos... No ano novo.
- Que bom, né? Eu digo, bom para você e para ele porque você sabe... Com um Fernando morando na casa ao lado... - Então ela riu novamente. - Brincadeira. É uma pena. Você está bem?
- Estou sim... Às vezes, nós precisamos de um tempo para nos preocuparmos com nós mesmos, não é? - Eu sorri.
- Tem razão. - Assim que Lisa se levantou para colocar sua xícara na pia, a campainha tocou. - Acho que é para você. Divirta-se.


Quando abri a porta, contei a Fernando que Rachel não iria conosco, então ele tirou uma das pranchas do carro. Incrivelmente, havia um sol fraco no céu. Sim, fraco, mas pelo menos havia sol, eu não podia reclamar... Foi o que Fernando me disse.
Ao chegarmos lá, vesti a roupa por cima de meu biquíni e pedi a ajuda de Fernando para fechá-la. Quanto já estávamos os dois vestidos, Fernando passou um bom tempo me ensinando os movimentos necessários para se levantar e se equilibrar em cima de uma prancha de surf. E, para falar a verdade, os tais movimentos eram ridículos e Fernando falava comigo como se eu fosse uma criança de 5 anos que mal entendia sequer uma palavra... O que foi realmente engraçado.


- Você entendeu agora? Eu posso fazer de novo... Primeiro você vai ficar assim... - Ele deitou sobre a prancha. - ...deitada e vai remando... Direita e esquerda. Direita e esquerda. Até encontrar uma onda "boa", certo? - Eu o interrompi.
- Sim, sim, eu entendi. Aí quando eu encontrar a "onda boa", me viro remando e espero sentir ela me levantando e, ao mesmo tempo, me levanto... Tipo, junto com ela. Acertei?
- Isso! Muito bem. Está pronta para a água? Porque eu posso repetir mais uma vez... Se você precisar.
- Cala a boca, Fernando. - Ele riu. - Vamos logo com isso.
Ele se levantou, pegou as duas pranchas e as levou para a água enquanto eu o seguia. Então, segurou a prancha para que eu subisse e depois subiu na sua.
- E se eu cair?
- É por isso que nós vamos pegar uma onda fraca. Se você cair, é só nadar até a prancha de novo. Eu também vou estar aqui. Não se preocupe.
- Okay.
- Quando eu falar "Agora", você deita e começa a remar.
- Tá bom. Mas me promete que se eu cair você vai me pegar? Eu tenho medo de, sei lá, não voltar para a superfície. - Ele riu.
- Pode deixar. - Ele olhou para frente. - Agora! - Ele deitou e começou a remar, eu entrei em pânico e não me mexi. Ele olhou para trás, me procurando e quando viu que eu não havia saído do lugar, voltou.
- O que houve? - Ele me perguntou rindo.
- Entrei em pânico. - Ele riu novamente.
- Olha, não tem nada de mais. E se você cair, é ainda mais legal.
- Okay, vou fingir que isso é verdade.
- Ah, confia em mim, vai? - Ele disse, fingindo uma carinha de dó, me fazendo rir.
- Eu confio. - Então, ele olhou de novo para o mar.
- Agora!


Eu consegui me mexer dessa vez, seguindo Fernando até um certo ponto da água. Fiz o que ele havia me ensinado, mas quando tentei ficar em pé na prancha, caí... Eu nem cheguei perto de me levantar, caí quando estava agachada com um dos joelhos encostando na prancha.
Fernando tinha razão, não era tão ruim assim caír, exceto pela água que entra em seu nariz, mas isso é o de menos. Logo ele estava lá me ajudando a subir de novo.


- Você está bem? Se machucou? - Ele perguntou tirando os cabelos que estavam em meu rosto.
- Tudo certo.
- Você quer tentar de novo?
- Mas é claro! - Ele riu e voltou para sua prancha.


Aquela mesma cena se repetiu por mais duas vezes. Eu ficava de joelho e caía, exatamente da mesma maneira. Então Fernando me explicou o que estava fazendo de errado e nós fomos novamente, sem sucesso.


- Você está com medo de se levantar. Precisa parar com isso. É como se preferisse se jogar da prancha antes de levantar, entende? Da próxima vez, vai com tudo. Tenta esquecer o medo, você não sabe o que vai acontecer, então tente ser otimista, certo? - Ele disse entusiasmado, estendendo sua mão direita para mim.
- Okay. - Eu dei um toque em sua mão e ele voltou a observar as ondas.
- Vai! Agora! - Nós dois nos viramos e esperamos a onda chegar mais perto.


A onda chegou enquanto eu remava, então eu criei coragem não sei da onde e me levantei. Não era uma onda forte, mas a sensação de estar deslizando sobre a água era incrível, mesmo que só por alguns segundos. Eu caí, e voltei rindo.


- Finalmente! - Ele veio em minha direção e me abraçou, rindo comigo. - E aí, qual é a sensação?
- Ah sei lá, é muito bom. O melhor frio na barriga que eu já senti.
- Você tá com fome?
- Sim. E você?
- Também. Você prefere comer por aqui ou na minha casa?
- Como nós podemos comer na sua casa se sua mãe está no trabalho?
- Bom, a gente pode passar em algum lugar na ida e comer em casa, senão eu posso arriscar e preparar um macarrão com queijo, que tal?
- Ah, eu amo macarrão com queijo.
- Então tá, vamos trocar de roupa... Depois vamos para minha casa.


Secos e de roupa trocada, entramos no carro a caminho da casa de Fernando. Chegamos e fomos direto para a cozinha, famintos.


- Fernando... Você já fez macarrão alguma vez na vida?
- Na verdade, não. Mas eu já vi minha mãe fazendo... O que dá na mesma.
- Na verdade, não, não dá na mesma, mas tudo bem. Eu estou numa situação em que comeria qualquer coisa parecida com macarrão. - Ele riu.


Fernando pegou uma panela, colocou água e depois um pouco de óleo.


- Você pode pegar o macarrão ali naquele armário, por favor? - Ele disse, apontando. Eu peguei o pacote e entreguei para ele.

Depois de um tempo, Fernando colocou o macarrão na panela e deixou cozinhar. Enquanto eu permanecia sentada com a cabeça apoiada nas mãos.


- No que você está pensando? - Ele me perguntou.
- Ah, não é nada, só estou cansada.
- Não parece. Mas, de qualquer forma, eu não deveria ter perguntado.
- E por que não?
- Porque eu não gosto quando me perguntam isso... E as pessoas nunca dizem a verdade. - Ele se virou para o fogão novamente.
- Eu estava pensando no meu namorado... EX-namorado.
- A briga foi muito feia? Quando vocês terminaram... Sabe? - Ele disse, cuidadoso.
- Sinceramente, eu não acho que poderia ter sido mais feia. Mas foi bom, isso só mostra que nós realmente deveríamos ter terminado.
- Há males quem vêm para o bem. Minha mãe sempre diz isso. Acho que é a única coisa que ela diz que faz sentido... Isso se não for a única coisa que ela sabe dizer. - Nós dois rimos.


Fernando e eu comemos, e depois ele me levou à porta da casa de Lisa.


- Obrigada. - Eu agradeci a Fernando.
- Eu me diverti muito. A gente pode marcar outro dia, se você resolver ficar mais algum tempo. - Ele sorriu.
- Claro. Eu te vejo depois?
- Sem dúvida. - Ele se virou e voltou para sua casa. Eu entrei e fui até a sala, esperando que alguém notasse a minha chegada ou sei lá.


Ao sentar-me no sofá, ouvi vozes vindas da cozinha. Eram Rachel e Lisa, elas falavam praticamente sussurrando, mas eu ouvia perfeitamente devido ao silêncio da casa.


- Você deve isso a ela. Você precisa dizer a verdade.
- Eu não consigo. Eu conheci ela há dois dias, como eu posso dar uma notícia dessas para uma pessoa que eu mal conheço? - Lisa parecia apavorada.
- Você não pode mentir pra ela. Você não viu ela sofrer, mas eu vi, eu estava lá. Você não sabe como isso é difícil. Não para mim, mas para ela. Você não sabe o quão forte ela teve de ser. Você não pode mentir pra ela agora. Eu acho melhor você contar porque... Se você não fizer, eu faço. - Rachel falava seriamente, dava para perceber pelo tom de sua voz. Eu ouvi alguns passos se aproximando, então, cuidadosamente me levantei, fui até a porta e saí, fingindo que jamais havia entrado. Quando vi a luz da cozinha se apagar através da janela, entrei novamente. Lisa estava sentada no sofá, ligando a televisão com o controle remoto, e Rachel subindo as escadas.


- Olá. - Eu disse, fingindo estar animada e me sentei ao seu lado.
- Oi, . Como foi? - Ela deu um leve sorriso.
- Foi muito bom, nós nos divertimos bastante.
- Você está com fome? - Ela perguntou.
- Não. Eu já comi... Macarrão com queijo, e foi o próprio Fernando quem preparou. - Eu sorri.
- Ah isso é ótimo.
- Lisa, você está bem? - Eu perguntei a observando.
- Não. É tão fácil assim perceber? - Ela deu um sorriso sem graça novamente.
- O que aconteceu? - Eu me aproximei.
- Sabe quando você precisa dizer algo importante para uma pessoa, mas você não sabe como? - Ela olhou para baixo. - Quando você não tem coragem, sabe?
- Me fala o que é. Eu posso te ajudar.
- Não acho que você possa... - Ela disse, olhando para mim.
- Eu ouvi você e a Rachel conversando. Eu sei que você tem algo para me contar. E, se eu tenho que ouvir isso de você, acho melhor você me contar de uma vez. Porque eu não quero ter que perguntar a ela. - Lisa ficou imóvel por alguns minutos.
- Eu sei que o que eu tenho para dizer não é nada bom e você não merecia isso... Mas agora não há nada que eu possa fazer... Você vai sofrer se eu te contar, e você também vai sofrer se eu mentir. Eu só... - Ela começou a chorar e tentou esconder seu rosto de mim, encarando a porta. - Eu só queria evitar isso... E evitar é justamente tudo o que eu não posso fazer. Eu queria que você gostasse de mim, e isso não vai ser possível depois que eu te contar a verdade. Porque eu não tenho... Eu não tenho o direito de te pedir para tentar entender... Eu mal consigo falar agora... Eu tenho negado e evitado isso por tantos anos... - Então ela parou novamente e me encarou. - Eu tenho sonhado com um abraço seu há tanto tempo que não precisava mais de um abraço, porque se eu tivesse um minuto com você... Isso já seria mais do que eu mereço. Eu... Só por um instante, eu queria não ser a mulher que te deixou sozinha há dezessete anos. Mas eu não posso.




Capítulo 14 – “Everybody Lies”


Eu não sabia o que dizer. Fiquei paralisada. Primeiramente, porque eu não sabia se tinha escutado direito. E, depois, percebi que ela ainda estava esperando por uma resposta. Na verdade, eu não sabia como reagir.


- Então... Você é minha mãe...? – Eu disse devagar. – Você me abandonou há dezessete anos e jamais sequer pensou em voltar?
- Não, você não entende... É porque... – Ela começou, e eu a interrompi.
- Eu não quero desculpas, Lisa. Não quero explicações. Porque não importa quantas mil palavras você me diga, isso não muda o que aconteceu no passado. – Eu me levantei, indo em direção às escadas. Quando estava de costas para ela, enxuguei as lágrimas que haviam escorrido sem que eu mesmo percebesse.
- Me perdoa. – Ela me segurou pelo braço antes que eu pudesse subir os degraus. – Eu... Eu tentei te procurar, eu mandei cartas... Muitas vezes, até liguei para seu pai. Eu tentei me aproximar. Tentei voltar atrás. Mas ele nunca permitiu. Ele... – Ela parecia desesperada.
- E ele tinha motivos, não tinha? – Eu disse, desprendendo-me de sua mão. – Eu sou sua filha. Sua FILHA. E você ainda tem coragem de me dizer que “tentou”? Por dezessete anos, você “tentou” e nunca conseguiu. Você não “tentou” o bastante. E não adianta você culpar o meu pai. Afinal de contas, ele conseguiu ser tudo aquilo que você não foi por todos esses anos. Então, não, eu não consigo te perdoar. Não agora. Por favor, me dá um tempo. Me deixa pensar, porque isso é demais para mim.

E, com isso, eu virei as costas mais uma vez e subi as escadas. Antes de fechar a porta do quarto, eu pude ouvir os soluços de Lisa vindos da sala de estar.


Rachel estava deitada na cama brincando com Ringo, meu cachorrinho. Quando eu entrei, ela olhou para mim. É claro que ela sabia o que tinha acontecido. Então ela se levantou, caminhou até mim e, sem uma palavra sequer, me abraçou.


Eram 3:42 da madrugada, e eu ainda não havia conseguido dormir. É claro que eu não esperava que Rachel fosse continuar acordada para me fazer companhia. Ainda bem, porque, a essa altura, ela já estava dormindo e sonhando... como uma pedra. Então, eu fiz a única coisa que me poderia me deixar mais tranquila.


- ? – Eu disse ao celular, esperando por uma resposta... É, uma resposta que demorou uns bons dois minutos para “chegar” até mim.
- Hm? – disse sonolenta.
- É a . Eu preciso falar com você.
- O quê? São... – Ela parou para checar as horas. – Quatro horas da manhã. Por que infernos você está me ligando à uma hora dessas? É melhor ser importante porque eu estava no meio de um sonho muuuuuuito bom. – Agora sua voz estava mais audível.
- Olha, acho que nem é tão importante assim... Eu só descobri que a Dra. Lisa House é... Hm... Bom... Ela é minha mãe. Mas tudo bem, volta aí para o seu sono... ou sonho... Tanto faz.
- O QUÊ? – Ela gritou. – O QUE VOCÊ ACABOU DE ME DIZER?
- A Lisa. Ela é minha mãe.
- A LISA? COMO ASSIM? ENTÃO ESSA É A VADIA QUE TE ABANDONOU? – Ela gritou novamente, e eu não pude fazer outra coisa além de rir. – , eu estou falando sério. O que você fez?
- Bom, eu disse que precisava de um tempo para digerir tudo isso. E que não existe uma possibilidade de eu perdoá-la agora.
- E você não deu um tapa na cara dela ou... Sei lá? Sério? – Ela disse perplexa e deu um suspiro antes de continuar. – Se eu fosse você, a história seria bem diferente... Mas deixa isso para lá, como... Como você está se sentindo?
- Eu estou com raiva dela, sabe? Eu queria descer as escadas, pegar aquele abajur e bater nela com toda a minha força, mas... eu também senti um alívio estranho. Como se um peso fosse retirados dos meus ombros, como se eu estivesse mais leve. A Lisa pode ter me abandonado, mas eu acredito que ela tenha feito isso pensando no meu bem... E, queira ou não, ela é uma ótima pessoa. Eu fiquei feliz. Porque, mesmo com toda essa confusão que anda aparecendo na minha vida, eu... Eu ganhei uma mãe. Minha mãe.
- Sim, entendo... E faz sentido. Mas eu ainda acho que um tapinha não iria mal. – Ela ficou quieta por alguns instantes. – Brincadeira. Mas e o seu pai? O que você vai falar para ele?
- Eu ainda não pensei nisso... Mas não estou brava ou magoada com ele...
- Olha, você é muito calma. Isso me irrita.
- Não é isso. Eu só acho que não preciso piorar as coisas ainda mais. E você é muito irracional, sabia?


Depois de mais alguns minutos conversando com , acho que ela caiu no sono conforme nossos assuntos foram diminuindo, então desliguei e fui até a varanda do quarto.

Eu não sabia o que fazer depois do que havia acontecido. Eu deveria deitar na cama e dormir, mas sabia que isso não seria possível. Eu não fazia ideia do que fazer quando amanhecesse e eu precisasse sair do quarto. Mas, definitivamente, a última coisa que eu poderia fazer era ir embora. Afinal, em menos de quarenta e oito horas, eu faria o último teste de compatibilidade e, então, o transplante. O que eu menos precisava era estresse e cansaço... e, naquele momento, eu tinha certeza que ambos estavam presentes.

Um barulho na casa ao lado me chamou atenção. Em seguida, uma luz se acendeu. Ao entrar no quarto, Fernando olhou para onde eu estava, depois para o relógio que estava em seu pulso e voltou a me observar, desta vez, aproximando-se de sua própria varanda. Ele abriu a porta de vidro e sorriu ao passar por ela.


- Você sabe que são quase cinco horas da madrugada, né? – Ele perguntou.
- E você, sabe? – Eu respondi, fazendo-o rir.
- Acho melhor nós não comentarmos sobre o horário... O que traz você aqui?
- Hm... Um transplante de medula óssea. – Eu sorri, sabendo que ele não se referia àquilo.
- Você sabe o que eu quero dizer.
- Acho melhor não comentarmos sobre isso também. O que você estava fazendo?
- Atacando a cozinha da minha casa, sabe... – Ele olhou para mim, como se estivesse tentando me entender. – Você... quer dar uma volta? Sei lá, andar um pouco? Dar uma volta no quarteirão ou...
- Claro. Eu adoraria, na verdade. – Ele sorriu.
- Te encontro ali em frente. – Então ele virou as costas e foi em direção à porta de seu quarto. Eu fiz o mesmo.


Quando cheguei ao portão da casa de Lisa, Fernando já estava lá. Ele me deu um sorriso e, sem sequer, uma palavra me ofereceu seu braço para que começássemos nossa caminhada. Porém, o silêncio não durou mais do que alguns passos.


- A Lisa é uma boa pessoa. – Ele começou. – Há alguns bons anos atrás, minha mãe me contou um pouco sobre o passado dela em Seattle, e sobre a criança que ela tinha deixado... – Eu o interrompi.
- E quando foi que eu disse o contrário? – A resposta saiu um pouco mais áspera do que o esperado.
- Me deixa terminar? – Ele parou de andar e me olhou nos olhos. Eu simplesmente assenti, indicando para que ele continuasse e desviei-me do seu olhar. – No começo, eu pensei que o que ela havia feito era a pior coisa do mundo. Eu a via como uma pessoa covarde... Que não teve coragem de ficar e lutar pelo seu próprio bebê, pela sua família. Mas aí, minha mãe me disse os motivos dela. Ela fez o que julgava ser melhor pelo futuro de sua família. E, até onde eu sei, ela não queria que dezessete anos se passassem sem que ela tivesse feito sequer uma ligação... Ou sem ter tido a oportunidade de manter contato.
- Como se isso fizesse alguma diferença agora, não é mesmo? – Eu disse, em voz baixa. Fernando fingiu não ter me escutado e continuou.
- Várias vezes ela ligava para minha casa chorando. Várias vezes nós chegávamos na casa dela e... – Ele demorou vários segundos para encontrar as palavras certas. – Eu era pequeno... Eu lembro que, depois de todas essas vezes que eu a tinha visto naquele estado, eu pensava nela como a pessoa mais triste... E também a mais corajosa. Porque... eu sabia da história dela... Ela... Ela é uma boa pessoa. Ela foi obrigada a conviver com essa culpa durante todos esses anos. O arrependimento. E não pense que isso ocorreu só nos primeiros anos... – Ele me viu revirando os olhos, respirou fundo e, mais uma vez, continuou a falar. – Eu não sei se qualquer um aguentaria tudo isso. Eu não estou protegendo ela. Não estou escolhendo lados. E também não estou dizendo que você não tem o direito de reagir da maneira que quiser. Eu só quero que você saiba melhor. Quero que você entenda. As pessoas cometem erros... Mas isso não significa que você precise continuar vivendo seus erros até o último dia de sua vida. As pessoas também têm o direito de se arrependerem. Já o perdão... é uma escolha que não pode ser feita por eles.
- Obrigada. – Eu disse sinceramente quando me aproximei para abraçá-lo. – Eu estava precisando disso.
- Pode contar comigo... quando quiser. – Ele se afastou um pouco para olhar meu rosto. – Eu acho melhor você ir para casa agora e dormir. Você precisa de descanso. As próximas semanas, depois do transplante, não vão ser as mais fáceis. Certo?



Depois de minha “caminhada” de aproximadamente dez passos com Fernando naquela noite, eu voltei para a casa de Lisa cuidadosamente, pois acordar alguém àquela hora da manhã não daria em uma situação muito confortável, e finalmente consegui adormecer.


Acordei, então, à uma hora da tarde com as batidas de House. Ou, mais especificamente, de sua bengala, na porta do quarto.


- Você dorme vestida? – Ele esperou por alguma resposta. – Bom, é melhor que você esteja, porque eu vou entrar. E não cairia bem se a minha mulher ficasse sabendo que eu vi a filha dela sem roupas. Por falar nisso, não precisa ficar com medo de sair do quarto, pode não parecer, mas ela tem um pouco de bom senso... A Lisa não está aqui. Ela foi dormir na vizinha. Você acha que eu deveria me preocupar com isso? Às vezes parece que ela dorme mais na cama da Addison do que na nossa... Isso é normal entre as mulheres, não é? Ou eu deveria me preocupar? – Eu sabia que ele não me deixaria dormir, então me levantei e fui abrir a porta. – Não sei se isso ajuda em alguma coisa... Mas você está horrível. – Eu me encostei à porta aberta e esperei que ele continuasse. – Eu posso entrar? – Àquela altura House já estava dentro do quarto. Foi aí que eu percebi que Rachel não estava lá. – Hm, ela está na sala de estar... – Ele disse, referindo-se à Rachel, enquanto se deitava na cama dela.
- O que você quer? – Eu perguntei, quase me jogando na cama.
- Eu quero saber como você está. Como você está se sentindo? Você quer gritar? Correr? Se matar, talvez? O que se passa dentro dessa sua cabeça?
- Não precisa fingir. Vai me dizer que não foi a Lisa que te pediu para vir aqui e conversar comigo?
- Olha, você é mais esperta do que eu imaginava. – Ele disse, sentando-se na cama. – Eu tentei. Você não aceitou minha ajuda. Minha parte aqui está feita. – Então ele se levantou e foi em direção à porta. Antes de abri-la, ele virou a cabeça em minha direção. – ?
- Hm?
- Todo mundo mente.



Capítulo 15 - I'll Go Crazy If I Don't Go Crazy Tonight



É engraçado como o tempo muda algumas coisas. Coisas que, talvez, no passado, tenham sido consideradas importantes. Sentimentos, necessidades, prazeres, pessoas... É engraçado como o tempo nos muda ou como nós precisamos dele. As responsabilidades se tornam maiores, tomando o lugar das futilidades. E, quando você menos espera, tudo deixa de ser simples.

Hoje, me lembrei de coisas das quais eu fazia questão de ter no futuro. Como a presença de . Eu achava que precisaria dele em todos os momentos. Isso não significa que eu não sinta sua falta, ou que já tenha o esquecido. Mas, agora, não havia sentido em fazer dele uma prioridade. Outro exemplo seria a presença de uma mãe, no caso, a presença de Lisa. Se eu soubesse que seria dessa maneira, não teria passado todos os últimos anos desejando isto.


- ? Já está acordada? – Rachel apareceu à porta do quarto. Como resposta, eu simplesmente assenti. – Nós precisamos ir ao hospital... É melhor você começar a se arrumar. House disse que você tem trinta minutos para ficar pronta. – Com isso, ela deu um leve sorriso e saiu, fechando a porta. Eu me levantei, escolhi algumas peças de roupa e fui até o banheiro.


Depois de alguns minutos, desci as escadas e fui até a cozinha, onde House e Rachel estavam sentados.


- Já podemos ir? – House perguntou. – Ah, espero que você não esteja com fome. Vamos fazer alguns exames hoje, então é necessário que você esteja em jejum. – Mais uma vez, eu assenti.

House se levantou com certo esforço e caminhou até o balcão para pegar as chaves. Rachel também se levantou, foi até a sala e ligou a TV.

- Você não vai com a gente, Rachel? – Eu perguntei com uma expressão mais assustada do que planejava. Ela deu de ombros.
- Bom, quando você conseguir colocar três pessoas em uma moto, me avise. – House respondeu por ela, abrindo a porta e indicando para que eu saísse. Eu o encarei por alguns instantes com a mesma expressão, imóvel. – Do que você está com medo? Caso você tenha esquecido, você tem câncer.
- Sério? – Eu disse sarcasticamente. – E, caso você tenha esquecido... – Eu apontei para a bengala dele, sem precisar dizer mais uma palavra sequer. Rachel riu.
- Então você não precisa se preocupar. Se não morrer de câncer, você morre em um acidente de moto... Provocado por um motociclista aleijado. – Ele deu um sorriso e indicou mais uma vez para que eu saísse. Eu respirei fundo e fiz o que ele pediu.


Quando estávamos em frente à garagem, House apertou o botão do controle remoto. Enquanto ela abria, ele me passou sua bengala para que eu a segurasse e retirou sua Ducati laranja.


- Onde você coloca isso? – Eu disse, devolvendo a bengala, enquanto ele me passava um dos capacetes. Ao invés de responder, House colocou sua bengala em um tipo de suporte que havia em sua moto. – Interessante... Muito interessante.


Nós dois colocamos os capacetes, ele subiu na moto, e eu fiz o mesmo. Era estranho. House não é o tipo de pessoa que você abraça... Mesmo que você estivesse em cima de uma moto e isso fosse necessário... Eu não sabia o que fazer com as minhas mãos, ou onde me segurar. Ele deu partida e acelerou.


- Olha, por mais que seja legal ver as pessoas caindo quando se acelera... Não é tão divertido assim se você cair logo de primeira... É melhor você se segurar em mim. – Antes mesmo de ele terminar a sentença, eu já tinha me agarrado à sua jaqueta. – Mas vê se me solta quando quiser cair.



Felizmente, conseguimos chegar vivos ao hospital. Bom, se House não tivesse me dito que nós havíamos chegado, eu jamais teria acreditado que aquela era a famosa “Clínica OceanSide”. Parecia mais um escritório, ou um shopping... Ou qualquer coisa que não fosse relacionada a hospitais e médicos. Sem contar que ficava em frente à uma praia maravilhosa.

Assim que entramos, dois homens vieram nos “cumprimentar”.


- Tem uma paciente com desmaios, alucinações e dores de cabeça. Nenhum medicamento funcionou até agora. – Disse o homem loiro com sotaque australiano.
- É. E nós suspeitamos que seja lúpus. – O homem ao seu lado acrescentou.
- Nunca é lúpus. – House disse, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo. – Mas, primeiro, eu preciso levar essa garota à ala de exames. Qual é o número do quarto?
- 1379. – Os dois disseram ao mesmo tempo. House assentiu e deu as costas, me puxando. – Quem é ela? – Um deles perguntou ao outro quando nós estávamos a uns dez passos de distância.
- É a filha da Lisa. – House respondeu, mesmo sabendo que a pergunta não tinha sido feita diretamente a ele.

Ele me levou a uma sala e me deixou lá. Uma enfermeira chegou minutos depois.

- Olá, querida! Nós vamos fazer alguns exames em você. Primeiro, o de sangue, tudo bem? – Ele me perguntou com uma voz amável.
- Sim, sim. – Eu sorri. Ela me levou até a cadeira e colocou meu braço direito sobre um apoio de metal, amarrou uma borracha em volta dele e colocou uma bolinha em minha mão para que eu apertasse. Em seguida, ela pegou uma seringa e a inseriu em uma de minhas veias. No total, foram retirados cinco tubinhos de sangue.
- Agora nós vamos fazer um eletrocardiograma, no andar de cima. – Ela falou enquanto examinava meu prontuário. – Me acompanhe, por favor.


Ela foi em direção à porta, e eu a segui. Nós entramos no elevador e fomos até o segundo andar. Ela me guiou a uma pequena sala. Eu tirei minha camiseta e me deitei em uma cama, como ela havia pedido. Então, ela colocou eletrodos sobre meu peito e barriga e prendedores de metal em minhas canelas. Quando tudo estava pronto para o exame, a enfermeira pediu para que eu ficasse calma e não me mexesse. O procedimento não durou muito tempo e correu tudo bem. Alguns minutos mais tarde, eu estava em um quarto, esperando por House.

Eu peguei meu celular, disquei o número de meu pai e esperei alguns segundos até ouvir a voz dele.


- ?
- Oi, pai! Eu estou no hospital... – Quando estava prestes a terminar a frase, ele me interrompeu.
- Hospital? Aconteceu alguma coisa? – Sua voz parecia preocupada.
- Não, pai. House, marido da Lisa, me trouxe para fazer os exames necessários para o transplante. – Resolvi não contar a ele, pelo menos ainda, que eu sabia sobre minha mãe.
- Ah, sim. Todos os exames já foram feitos?
- Foram, sim. Os resultados sairão amanhã, eu só estou esperando House me levar para casa e resolvi te ligar para avisar.
- E a Lisa? Ela esteve com você hoje?
- Hum... É... Ela foi chamada para uma emergência muito cedo. Então, ainda não a vi.
- Está certo... – Eu ouvi o barulho de seu pager. – Filha, eu preciso desligar. Depois nos falamos. Beijos, se cuida. Te amo.
- Eu também te amo. – Ele desligou.


Eu senti uma mão em meu ombro.


- . – Eu me virei e me deparei com Lisa. – Pronta para ir?
- Onde está o House?
- Ele precisa ficar no hospital. Eu vou te levar em casa.
- Ah, não tem problema. Eu posso esperar. – Eu disse, me virando.
- Ele não tem uma hora definida para ir embora. Fora que Rachel está sozinha, e não é bom você ficar aqui no hospital. Eu te levo e aproveito para pegar algumas coisas em casa. – Ela insistiu.
- Você não se importou comigo por dezessete anos. Não precisa fingir que se importa agora. – Eu dei um sorriso e saí do quarto.


Eu comecei a andar pelos corredores à procura da sala de House. Até que avistei um dos homens que estavam conversando com ele mais cedo.


- Oi... É... Você pode me dizer onde fica a sala do Dr. House? – Eu lhe perguntei.
- Claro. Terceiro andar, primeiro corredor à direita. É só procurar por uma porta de vidro escrito “House M.D.”. – Ele sorriu e voltou a prestar atenção no que estava fazendo anteriormente.


Eu segui suas instruções até chegar à sala que procurava e bati na porta. Ele girou em sua cadeira.


- O que você quer? – Eu entrei e fechei a porta atrás de mim. – A Lisa ainda não foi falar com você?
- Não consigo ficar perto dela. Pelo menos, não agora.
- E onde é que eu entro nessa história? – Ele disse girando em sua cadeira novamente.
- Se não consigo ficar perto dela, isso significa que, em hipótese alguma, eu vou deixá-la me levar embora só para que ela tenha a desculpa perfeita para passar algum tempo perto de mim e me forçar a falar sobre um assunto do qual eu não tenho nenhum interesse no momento.
- Certo, respire. Eu ainda não entendi o que eu tenho a ver com isso.
- À que horas você sai? – Eu perguntei, ignorando o que ele havia acabado de dizer.
- Eu não sei. Isso depende de muitas coisas.
- Por exemplo?


Quando House abriu a boca para me responder, uma batida na porta o interrompeu. Nós dois olhamos para o vidro e, pela primeira vez, a presença de Lisa me deixou aliviada. Aquela minha conversa com House iria muito mais longe se ela não houvesse aparecido. Então, ela abriu a porta e foi diretamente em frente à mesa de House, ignorando minha presença.


- Você pode, por favor, levá-la para casa? – Ela perguntou, quase sussurrando. – Por favor? – Ele simplesmente assentiu, e Lisa se virou rapidamente para sair da sala.
- Interessante, agora você sabe me ignorar. – Ela estava quase alcançando a maçaneta quando eu falei, então se virou e olhou em meus olhos. Os dela estavam vermelhos, provavelmente porque havia chorado. E isso, por um segundo, quase fez com que eu me arrependesse do que havia dito.
- Você está magoada e com raiva. Não vale a pena termos essa discussão agora. – Ela falou com calma, como se tentasse convencer a mim e a si mesma.
- O que mais você esperava que eu sentisse? Felicidade? Porque eu passei minha vida toda me perguntando como seria se minha mãe estivesse comigo, sentindo falta da mãe eu tinha “perdido” e agora eu descubro que ela esteve viva o tempo todo! – Enquanto isso, House nos observava atentamente, como se estivesse assistindo a um bom filme.
- ... – Assim que ela começou, eu a interrompi.
- Não. Não fala o meu nome. Por que você não morreu de verdade? Sério, por que você está viva?! – Àquela altura eu estava quase gritando. Lisa virou as costas e abaixou a cabeça, eu podia ver seus ombros tremendo. Eu fui até ela e puxei um de seus braços com força, fazendo com que ela se virasse para mim novamente. – Eu não terminei. – Dessa vez, ela me interrompeu, retirando minha mão de seu braço.
- Não. Chega. Você não tem o direito de dizer essas coisas para mim. Você não me conhece. Você não sabe o que eu passei. – Eu ri sarcasticamente, não a deixando continuar.
- Hmm... O que eu não sei? Que você era uma drogada? Que foi por isso que você se mudou para Los Angeles e me deixou para trás? E você me conhece, não é mesmo? E sabe exatamente tudo pelo que eu passei, certo?
- Não, . Eu não te conheço. Mas, agora, me diz quando foi que eu te julguei. Ou quando eu impus qualquer coisa a você. – Ela esperou por uma resposta, sabendo que esta não viria. – Eu estou te dando espaço. Eu... Eu não estou dizendo que não foi difícil para você... Mas... Você acha que foi fácil? Para mim? Você acha que foi fácil abrir mão da melhor coisa que já me aconteceu?
- Me poupe dessas suas desculpas, Lisa. – Ela fingiu que não tinha escutado e continuou.
- Eu só estou viva agora porque você nasceu. Você acha que eu teria me importado em parar de usar drogas ou em me tornar melhor se eu não tivesse você? Isso que está acontecendo agora... Nada disso foi planejado. Eu não vim para Los Angeles porque eu não queria assumir as responsabilidades de criar uma filha, uma família. Eu não vim para cá para passar a vida toda sem olhar pra trás. Eu não vim para esquecer você ou seu pai. Eu vim para me curar. Por você. Eu não queria precisar esperar até você ficar tão doente a ponto do seu pai precisar da minha ajuda. Você acha que eu não tentei te procurar? Eu liguei para o seu pai todos os dias. Mandei cartas durante anos e mais anos. Sem resposta alguma. E, quando eu tentei te procurar, ele ameaçou chamar a policia, inúmeras vezes. – Ela falou chorando. – Então, não. Você não tem o direito de falar assim comigo. – Ela se virou e saiu da sala. Eu estava imóvel.


Antes que as coisas ficassem mais estranhas, House se levantou, propositalmente batendo sua bengala na mesa de madeira para me despertar de meu transe.


- Pronta para mais uma experiência de quase morte com um motoqueiro aleijado? – Ele disse andando até a porta como se nada houvesse acontecido.


House me deixou em frente à casa e voltou ao hospital. Eu entrei e vi Rachel sentada no sofá, da mesma maneira como ela estava quando eu havia deixado a casa naquela manhã.

- Como foram os exames? – Ela perguntou, e eu dei um leve sorriso antes de responder.
- Foi tudo bem. Eu vou tomar um banho, okay? – Eu lhe respondi, subindo as escadas.


Assim que entrei no quarto, fechei a porta e me sentei à cama. Peguei meu celular e, novamente, disquei o número de meu pai.


- Filha, está tudo bem? – Ele respondeu minha chamada rapidamente com um tom de preocupação.
- É verdade que ela sempre me procurou? – Minha voz começou a falhar.
- Do que você está falando, ?
- É verdade, pai? Ela... Ela telefonou, mandou cartas e até me procurou?
- Ela te contou? Eu não acredito que ela fez isso. Eu preciso desligar. Preciso falar com a Lisa.
- Então é verdade?
- Eu te ligo mais tarde.
- Não. Primeiro você vai falar comigo. A Lisa não vai resolver nada agora. E você também não precisa culpá-la. Você sabe que faria o mesmo se os papéis fossem invertidos.
- , eu fiz o que achei melhor para você. Para sua segurança.
- Para a minha segurança? Você acha que ela iria fazer o quê? Me matar?
- Não, filha... – Eu o interrompi.
- Bom, isso não importa mais. A gente conversa melhor quando eu voltar para Seattle. Eu preciso resolver as coisas com Lisa. Te ligo amanhã para falar sobre os resultados. Tchau. – Eu desliguei antes que ele pudesse responder.


Depois de tomar um banho, desci à sala para fazer companhia a Rachel, enquanto esperava Lisa chegar do hospital.



Enquanto isso, em Seattle...


estava na festa de uma de suas amigas mais próximas. Quase todas as pessoas da escola haviam sido convidadas. Era apenas mais uma daquelas típicas festas em que os pais vão viajar e deixam seus filhos sozinhos em casa... Uma casa enorme, mais especificamente. Havia várias mesas em volta da piscina, luzes no jardim e, claro, mais bebidas alcoólicas do que alimentos em si. Alguns casais caminhavam à procura de lugares mais discretos pelo gramado, outros grupos de amigos faziam brincadeiras à borda da piscina, enquanto os demais dançavam e conversavam. estava conversando com Emily na cozinha da casa, onde procuravam algo para beber.


- Não sei se você percebeu... Mas aquele cara ali na porta não para de te olhar. – Emily disse, fazendo com que se virasse indiscretamente para encontrar o par de olhos que a observavam. Era . Ela sorriu por um instante e voltou sua atenção para Emily.
- Ah, ele é meu... Hm... Meu... – Antes que ela pudesse encontrar a palavra que procurava, foi interrompida por uma mão em sua cintura. Quando se virou, esperando encontrar , se deparou com a última pessoa que esperava: Mark, seu ex-namorado. – O que você está fazendo, Mark? – Ela disse, tirando a mão dele de sua cintura. Ele deu um sorriso malicioso, aproximando seus lábios dos dela. Antes que eles percebessem o que estava acontecendo, apareceu e puxou consigo, a um passo de distância de Mark, colocando um braço em volta dela.
- Quem é você? – Mark perguntou com desprezo.
- Isso não importa. Não é você que precisa saber quem eu sou. – disse e se virou com , caminhando em direção à porta que dava à frente da casa.


Chegando à varanda, se sentou em uma balança de madeira e esperou que se sentasse ao seu lado.


- Oi. – Ele disse sorrindo quando ela se aproximou.
- O que você está fazendo aqui? Eu digo... Eu não sabia que você conhecia Mindy. – Ela disse.
- Eu não conheço. Acontece que eu sou amigo do primo do namorado dela, que é sua amiga, certo?
- Certo... Mas por que você não me disse?
- Disse o quê? – Ele perguntou.
- Que iria a uma festa. Nós nos falamos hoje de manhã.
- Bom, eu sabia que você viria, então decidi fazer uma surpresa. E por que você não me disse?
- Hmm... Então... É uma história muito engraçada. Eu ia te contar... Mas, aí, eu não te contei. – Ela disse, dando uma risada forçada.
- Não tem problema. Eu acho que a gente precisa conversar. – Ele disse olhando em seus olhos.
- Sobre o que, por exemplo?
- Olha, eu e você nunca assumimos nada e nem falamos sobre isso como algo mais sério, mas eu preciso saber se você quer que esse “eu e você” seja um “nós”. – Ela sorriu enquanto pegava em uma de suas mãos.
- Eu preciso pensar. É uma decisão importante... – respondeu.
- Não, você não precisa pensar. Porque quando você sabe que quer algo e que essa decisão pode ser o melhor para você, não é necessário pensar. Você simplesmente sabe. E quando acontece o contrário... Quando você não tem certeza... Bom, nesse caso é melhor eu ir embora. – Ele se levantou e andou até o portão de entrada. – A gente se vê. – Ele se virou por uma última vez antes de partir, dando um fraco sorriso.

10 comentários:

  1. Adorei flor....
    li duas fic's essa semana,(a sua e a da Bia)e agora tô ansiosa pelas duas...kkkkk
    Espero terminar de ler muito em breve, viu?
    Bjinhuuusss!

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Minha linda! Assim que recebi isso pensei na hora em passar para o seu blog! Eu sei ele é mó perfeito, já deve ter, mas em todo o caso seu selo de qualidade de fanfic's! Entra aqui e ve o que tem que fazer >> http://anainsubstituivel-jemi.blogspot.com/ << Bjos! A e posta logo!

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  4. aaaaaah, volta a postar, porfis! D:
    uma fic tão perfeita dessa, tem que voltar logo *-*

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  5. Ameei *-*

    Selinho: http://istillinlovewithyou.blogspot.com/2011/04/selinho.html

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